09/02/2012 - Luiza Bairros fala sobre iniciativas de combate ao racismo e Estatuto da Igualdade Racial no Bom dia, Ministro
09/02/2012 - Luiza Bairros fala sobre iniciativas de combate ao racismo e Estatuto da Igualdade Racial no Bom dia, Ministro
O programa Bom dia, Ministro entrevistou a ministra-chefe da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial da Presidência da República, Luiza Bairros. No programa, a ministra falou sobre protocolo de intenções, assinado com a Petrobras, para a implantação de estratégias que objetivam fortalecer iniciativas de combate ao racismo e promoção da igualdade racial, assim como a efetivação de ações afirmativas. O documento foi firmado com a empresa na última terça-feira.
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Publicado em 12/12/2016 18:20
APRESENTADORA KÁTIA SARTÓRIO: Olá, amigos em todo o Brasil. Eu sou Kátia Sartório e começa agora mais uma edição do programa Bom Dia, Ministro. O programa tem a coordenação e a produção da Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República, em parceria com a EBC Serviços. Hoje, aqui nos estúdios da EBC Serviços, a Ministra da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial, Luiza Bairros. Bom dia, Ministra. Seja bem-vinda. MINISTRA LUIZA BAIRROS: Bom dia. Muito obrigada. APRESENTADORA KÁTIA SARTÓRIO: Na pauta do programa de hoje iniciativas de combate ao racismo e também o Estatuto da Igualdade Racial. A Ministra da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial, Luiza Bairros, já está aqui, no estúdio, e começa agora a conversar com âncoras de emissoras de rádio de todo o país, neste programa que é multimídia: estamos no rádio e na televisão. Ministra, já está na linha a Rádio Tupi, do Rio de Janeiro. A pergunta é de Ana Rodrigues. Bom dia, Ana. REPÓRTER ANA RODRIGUES (Rádio Tupi / Rio de Janeiro - RJ): Bom dia. Bom dia, Kátia. Bom dia, Ministra Luiza Bairros. APRESENTADORA KÁTIA SARTÓRIO: Ana, você pode aumentar o retorno, por gentileza? REPÓRTER ANA RODRIGUES (Rádio Tupi / Rio de Janeiro - RJ): Alô. Bom dia, Kátia. APRESENTADORA KÁTIA SARTÓRIO: Ainda está bastante baixinho. Se você conseguir dar um ganho para a gente... REPÓRTER ANA RODRIGUES (Rádio Tupi / Rio de Janeiro - RJ): Oi. Bom dia, Kátia. APRESENTADORA KÁTIA SARTÓRIO: Melhorou, melhorou. REPÓRTER ANA RODRIGUES (Rádio Tupi / Rio de Janeiro - RJ): Bom dia, Ministra Luiza Bairros. Tudo bem? APRESENTADORA KÁTIA SARTÓRIO: Obrigada. REPÓRTER ANA RODRIGUES (Rádio Tupi / Rio de Janeiro - RJ): Nós gostaríamos de destacar principalmente, Ministra, esse acordo firmado com a Petrobras para iniciativas de valorização da cultura negra e outros segmentos étnicos aqui, no nosso país. Nós temos uma influência enorme de vários grupos culturais, desde a Europa, África e os nossos grupos indígenas. No que consiste esse acordo e essa parceria? Ela vai resultar em quais políticas práticas para o povo e para a igualdade racial? MINISTRA LUIZA BAIRROS: Ana, esse protocolo de intenções, que assinamos com a Petrobras essa semana, ele tem uma importância muito grande porque responde a uma demanda antiga de organizações culturais e grupos artísticos negros em todo o Brasil. Você sabe que não apenas a Petrobras, mas várias empresas estatais no Brasil têm um peso muito grande no patrocínio cultural que é feito no país e nós não tínhamos ainda, embora grupos aqui e ali tenham sido beneficiados por esse patrocínio, nós não tínhamos ainda, do ponto de vista da Petrobras, uma política já estabelecida com relação a isso. E, a partir desse protocolo, nós teremos, então, a oportunidade de inserir nos editais uma prioridade para esses grupos artísticos e culturais. Poderemos, também, trabalhar a questão da composição das comissões de seleção desses projetos culturais no sentido de fazer com que nelas também estejam representadas essas visões, que veem a cultura brasileira como sendo uma cultura que resulta de muitas matrizes, e, no caso, a matriz africana tem uma importância que é central. APRESENTADORA KÁTIA SARTÓRIO: Você tem outra pergunta, Ana? REPÓRTER ANA RODRIGUES (Rádio Tupi / Rio de Janeiro - RJ): Sim. Eu gostaria de saber da Ministra sobre essa questão da intolerância racial. O Brasil é um país que tem uma lei muito rígida com relação à intolerância racial, mas se comenta que o Brasil tem um racismo velado dentro de alguns grupos sociais. Eu gostaria de saber da Ministra no que avançou, nos últimos anos, essa questão da punição, da mudança de paradigmas nessa questão da intolerância religiosa e racial no Brasil. Nós evoluímos ou nós estamos ainda na estaca zero? MINISTRA LUIZA BAIRROS: Não, na estaca zero, com certeza, nós não estamos. O que tem que ser considerado é que o racismo é um fenômeno bastante elástico. Ele vai se adaptando às mudanças que a sociedade vai realizando, vai fazendo. Eu costumo dizer com relação, por exemplo, à intolerância religiosa, é que nós percebemos isso com mais nitidez hoje. Por quê? Porque as pessoas que são ligadas às religiões de matriz africana, elas não se escondem mais, como faziam há vários anos atrás. Quer dizer, existe, hoje, uma possibilidade das pessoas exercerem a sua cultura religiosa, mostrarem isso na maneira como se vestem, nas contas que usam, no seu discurso, etc. E na medida em que isso fica mais visível, vão ficando mais visíveis, também, as reações de intolerância que possam existir na sociedade. Então, nós temos aí um fenômeno de dupla face, vamos dizer assim: a intolerância está mais evidente hoje? Está. Mas, por outro lado, nós temos, também, uma liberdade muito maior das pessoas, de demonstrarem a sua própria religião, sem vergonha nenhuma em relação a isso, sem nenhum tipo de sentimento de menoridade ou de subalternidade. APRESENTADORA KÁTIA SARTÓRIO: Obrigada, então, à Ana Rodrigues, da Rádio Tupi, do Rio de Janeiro, que participa conosco dessa rede. O Bom Dia, Ministro está no satélite, no mesmo canal da Voz do Brasil. Ministra Luiza Bairros, vamos, agora, a São Paulo, conversar com a Rádio Cultura FM. Gilson Monteiro, bom dia. REPÓRTER GILSON MONTEIRO (Rádio Cultura FM / São Paulo - SP): Bom dia. Bom dia, Kátia. Bom dia, Ministra. Eu gostaria de citar dois casos recentes que tomaram uma repercussão, inclusive, internacional, para ilustrar a minha pergunta. O primeiro é de uma estagiária que teria sido obrigada por uma escola que ela trabalha a alisar o cabelo, sendo, portanto, vítima de um padrão de beleza branco, em um tom claro aí de preconceito racial. Tem, também, o caso de um menino etíope que estava numa pizzaria, com os pais adotivos, e foi confundido com um menino de rua e retirado do estabelecimento. Bom, os responsáveis, a gente sabe, enfim, foram indiciados pela polícia, mas aí é que vem a minha pergunta: Ministra, a senhora não acha que o estado, além da ação social que já executa, também não deveria reprimir espaços que promovem o racismo? MINISTRA LUIZA BAIRROS: Olha, isso é uma atribuição não do Poder Executivo, obviamente, né? Eu acho que sanções dessa natureza em relação aos estabelecimentos, etc., isso tem que ser feito no nível do Poder Judiciário. Até por isso, existe, no Brasil, a lei... Na verdade, a Constituição assegura o racismo como um crime inafiançável, e eu acho que no âmbito da Justiça é que essas penalidades têm que ser executadas. Esses dois casos, eu acho que são casos bastante emblemáticos e tem um pouco a ver com a resposta que eu dei na pergunta anterior. Eu tenho sempre observado o seguinte fato: existe no Brasil, hoje, uma mudança, não é, do ponto de vista do que seria a inserção das pessoas negras na sociedade. Embora ainda exista um número muito grande, dentro da população negra, de pessoas em situação de pobreza, de desemprego e outras situações desse tipo, também há, por outro lado, pessoas negras que ocupam lugares que, até então, não ocupavam. Então a presença de uma funcionária negra numa escola particular, onde historicamente todos os funcionários, a maioria dos funcionários, a maioria dos alunos é branca, isso causa, efetivamente, um estranhamento e faz com que essas manifestações de racismo aconteçam. O mesmo é em relação à presença do menino negro num restaurante frequentado por classe média, onde isso geralmente não acontecia. Então esse estranhamento da sociedade com a presença do negro em lugares onde ele geralmente não estava, isso é uma dimensão dessas mudanças que eu falei, que aconteceram ultimamente, e de como o racismo vai também se adaptando a elas e encontrando novas formas de se manifestar. Agora, eu considero que existe uma tendência na população negra brasileira de cada vez mais denunciar o racismo que sofre. Na medida em que essas denúncias aumentarem, isso também vai forçar, no caso, o Poder Judiciário a ter um outro tipo de olhar para a legislação anti-racista que existe no país, e esse novo olhar implica exatamente nessa possibilidade de estabelecer punições, punições sérias para quem comete esses crimes, como aconteceu recentemente em São Paulo, uma escola que foi multada, me parece que em R$ 54 mil, pelo fato de ter permitido que uma criança negra sofresse, sistematicamente, racismo dentro da sala de aula. APRESENTADORA KÁTIA SARTÓRIO: Gilson Monteiro, da Rádio Cultura FM, de São Paulo, você tem outra pergunta? REPÓRTER GILSON MONTEIRO (Rádio Cultura FM / São Paulo - SP): Não mais. Vamos dar oportunidade aos colegas de perguntarem. Obrigado e bom trabalho a vocês. APRESENTADORA KÁTIA SARTÓRIO: Obrigada. Este é o programa Bom Dia, Ministro. Estamos hoje com a Ministra Luiza Bairros, da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial. Ela conversa com âncoras de emissoras de rádio de todo o país, neste programa que é multimídia: estamos no rádio e na televisão. Ministra, vamos, então, agora, à Manaus, Amazonas, conversar com a Rádio Amazonas. Patrick Motta, bom dia. REPÓRTER PATRICK MOTTA (Rádio Amazonas FM / Manaus - AM): Bom dia, Kátia Sartório. APRESENTADORA KÁTIA SARTÓRIO: Patrick? REPÓRTER PATRICK MOTTA (Rádio Amazonas FM / Manaus - AM): Bom dia, ouvintes e bom dia, Ministra. APRESENTADORA KÁTIA SARTÓRIO: Bom dia, Patrick. Nós não estamos escutando você. REPÓRTER PATRICK MOTTA (Rádio Amazonas FM / Manaus - AM): Olá, você está ouvindo bem agora? APRESENTADORA KÁTIA SARTÓRIO: Agora sim, obrigada. REPÓRTER PATRICK MOTTA (Rádio Amazonas FM / Manaus - AM): Agora sim. Bom dia, Kátia Sartório. Bom dia, senhoras e senhores ouvintes. E, também, bom dia, Ministra. MINISTRA LUIZA BAIRROS: Bom dia. REPÓRTER PATRICK MOTTA (Rádio Amazonas FM / Manaus - AM): Ministra, se compararmos o passado com o presente em nosso país, percebemos que a sociedade evoluiu, de certa forma, sobre esse tema que é o racismo. Piadas não são tão difundidas como antes, novelas já utilizam o negro em papéis diferentes, não só como escravo ou empregada, e até as propagandas da mídia usam mais crianças negras também, apenas para citar alguns exemplos. Pergunto, Ministra: quando é que, na avaliação da senhora, nossa sociedade deixará de ser amparada por estatutos, cotas, para aprender a respeitar negros, idosos, deficientes, entre outros, Ministra? MINISTRA LUIZA BAIRROS: Olha, esse processo, Patrick, do ponto de vista histórico, ele é um processo sempre muito longo. Porque quando nós falamos da questão das discriminações, nós estamos falando fundamentalmente na possibilidade de mudança de mentalidade. E isso é que se coloca dentro de um esforço que a sociedade tenha que fazer para mudar, inclusive, as suas formas de repassar conhecimento, de validar determinados conhecimentos. Por isso que tem sido tão importante, na pauta da Seppir, ao longo do tempo, essa questão da implementação do ensino, da história e da cultura africana e afrobrasileira em todas as escolas do país, como forma de, pela via da educação, nós podermos garantir a existência de determinados conteúdos que eliminem esse tipo de pensamento, de que os negros vêm de culturas que são culturas menores, são culturas inferiores, ou de que os negros não tenham dado nenhum tipo de contribuição para a construção do país, ou uma construção apenas muito superficial. Então, eu acho que na medida em que nós consigamos inserir, no sistema educacional, esses conteúdos que dêem conta da questão da igualdade, da questão de que todos nós viemos de culturas, de civilizações que são importantes no mundo, eu acho que essas coisas vão aos poucos se alterando. Enquanto isso não acontece, obviamente, eu acho que nós temos, efetivamente, que utilizar a força da lei para que determinadas coisas sejam feitas, garantindo o direito da parcela negra da população aos benefícios do desenvolvimento. APRESENTADORA KÁTIA SARTÓRIO: Patrick Motta, da Rádio Amazonas FM, você tem outra pergunta? REPÓRTER PATRICK MOTTA (Rádio Amazonas FM / Manaus - AM): Temos sim, Kátia Sartório. Ministra, sobre o Sinapir, que é o Sistema Nacional de Promoção da Igualdade Racial, que funcionará como ferramenta de organização e articulação para estabelecer políticas e serviços destinados à superação das desigualdades étnicas aqui, no Brasil, a gente pergunta: vai contemplar também os nossos caboclos e ribeirinhos aqui da Amazônia, Ministra? MINISTRA LUIZA BAIRROS: Olha, o foco do trabalho da Seppir, embora ela tenha que contemplar outros grupos, o foco é a população negra. E, no Brasil, como você sabe, é negra a pessoa que assim se declara. Então, os ribeirinhos e os caboclos, se considerarem e se declararem como negros, poderão, obviamente, ser beneficiados pelas políticas que a Seppir articula dentro do governo. Agora, é importante, a propósito da sua pergunta, explicar o seguinte: esse Sistema Nacional de Promoção da Igualdade Racial, que nós chamamos de Sinapir, é uma iniciativa da maior importância para nós porque, pela primeira vez, nós conseguiremos, em relação à igualdade racial, montar um sistema dentro do qual nós vamos definir exatamente quais são as competências do governo federal, dos governos estaduais e dos governos municipais na execução dessas políticas de igualdade racial. Então, o sistema é um sistema de política pública, assim como outros que nós já temos no país, a exemplo do Sistema Único de Saúde, do Sistema Único de Assistência Social, que foram sistemas dentro dessas áreas, responsáveis por um avanço muito grande, dentro do governo federal, da forma como as políticas são feitas, nos critérios que são utilizados para o repasse de recurso nos governos estaduais e municipais. Então, nós fazemos uma aposta muito grande no Sinapir, nesse sistema, como forma de tornar a igualdade racial como um princípio importante de qualquer política pública no país, porque, afinal de contas, se trata de responder, não é, às demandas e aos direitos mesmo de mais de metade da população brasileira. APRESENTADORA KÁTIA SARTÓRIO: Este é o programa Bom Dia, Ministro. Estamos hoje com a Ministra Luiza Bairros, da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial. Lembrando que o áudio e a transcrição dessa entrevista vão estar disponíveis, ainda hoje pela manhã, na página da EBC Serviços na internet. Anote o endereço: www.ebcservicos.ebc.com.br. Ministra, vamos agora a Bom Jesus, no Rio Grande do Sul, conversar com a Rádio Aparados da Serra. Nilson Spagnoli, bom dia. REPÓRTER NILSON SPAGNOLI (Rádio Aparados da Serra AM / Bom Jesus - RS): Bom dia, Kátia. Bom dia... Bom dia, Ministra. MINISTRA LUIZA BAIRROS: Bom dia. REPÓRTER NILSON SPAGNOLI (Rádio Aparados da Serra AM / Bom Jesus - RS): Ministra, a gente tem acompanhado que mesmo que há alguns anos já não há tanto a questão de racismo no Brasil, mas ainda há uma grande parte em algumas... em alguns setores. Nós vimos campos de futebol, nas escolas, enfim, na sociedade de um modo geral. Que ações específicas, na prática, devem ser tomadas para que haja esse combate efetivo do racismo, Ministra? MINISTRA LUIZA BAIRROS: Olha, a própria existência da Seppir, Nilson, e o fato de que também existem órgãos semelhantes no nível estadual e municipal em vários lugares do Brasil, nos diz o seguinte: existe uma responsabilidade do estado no sentido de modificar essa situação. E como nós dizíamos antes, isso passa pela adoção de determinadas políticas, de determinadas iniciativas que forcem a presença negra naqueles lugares onde, por direito, todos nós poderíamos ou deveríamos estar. Eu acredito em que, na medida em que cresça a presença negra em determinados espaços historicamente ocupados pelos brancos, nós vamos, efetivamente, ter, pode haver num determinado momento uma reação a essa presença, como eu falei, mas num outro momento há possibilidade dessa convivência quando as pessoas vão percebendo que, na verdade, não há diferenças entre elas para além daquelas que são dada pela melanina, por características físicas, mas que fundamentalmente somos humanos. Então, eu acho que essa é que é a grande... a grande... é... o grande desafio que nós temos enquanto Poder Público, para poder fazer com que as pessoas usufruam dentro da sociedade aquilo que é efetivamente um direito delas. Eu tenho certeza absoluta que nas comunidades acadêmicas do país, as universidades que adotaram cotas raciais, por exemplo, elas têm uma possibilidade de criar espaços de convivência e de troca, do ponto de vista de experiência, que são muito mais ricas do que aquelas que se estabelecem em lugares, por exemplo, onde a maioria das pessoas é e sempre foi branca. Então, eu acho que é nessa direção que a gente tem caminhado. Nós temos agora, em relação ao Estatuto da Igualdade Racial, estabelecido dentro do governo um diálogo que foi bastante profícuo. Nós temos em vários ministérios ações voltadas para a população negra mais especificamente, que eu acho que deverão contribuir nesses próximos quatro anos para uma mudança ainda maior do que já obtivemos até esse momento. APRESENTADORA KÁTIA SARTÓRIO: Você tem outra pergunta, Nilson Spagnoli? REPÓRTER NILSON SPAGNOLI (Rádio Aparados da Serra AM / Bom Jesus - RS): Não, Kátia. Obrigado pela oportunidade de conversar com a Ministra. APRESENTADORA KÁTIA SARTÓRIO: Obrigada, então, a Nilson Spagnoli, que é da Rádio Aparados da Serra, de Bom Jesus, no Rio Grande do Sul. Ministra, vamos agora conversar com a Rádio Tropical, Simão Dias, de Sergipe. Edelson Freitas, bom dia. REPÓRTER EDELSON FREITAS (Rádio Tropical / Simão Dias - SE): Bom dia, Ministra. Bom dia, Kátia. APRESENTADORA KÁTIA SARTÓRIO: Bom dia. REPÓRTER EDELSON FREITAS (Rádio Tropical / Simão Dias - SE): Ministra, uma vez que existam políticas públicas ou programas para viabilizar, digamos, a igualdade de raças em nosso país, o diferencial não esteja talvez nas ações do governo federal, mas ainda no despreparo da consciência da nossa população para receber tais informações e colocá-las em prática. Pergunto: tais informações que chegam à nossa população, ainda faz um diferencial para com a questão da consciência e da... da igualdade racial. O que a Ministra tem a falar sobre esse tema? MINISTRA LUIZA BAIRROS: Olha, existem muitas possibilidades, é óbvio, na ação que os governos têm em relação a essa questão, mas nós não podemos esquecer que as mudanças sociais, as mudanças na forma das pessoas pensarem e perceberem as coisas, elas são em muito provocadas pelos movimentos que a própria sociedade organiza autonomamente. Então, no nosso caso não há dúvida nenhuma que a existência de um movimento negro no país contribui enormemente para fazer com que essas posturas das pessoas mudem ao longo do tempo. Para fazer com que as práticas racistas sejam cada vez mais percebidas como coisas contrárias à democracia. Eu acho que esse é o papel fundamental que os movimentos sociais realizam e, até mesmo como fruto desse trabalho, é que foi possível num determinado momento, você convencer o governo brasileiro de que era necessário criar um ministério com as características do nosso. Então, não é um trabalho exercido exclusivamente pelo governo, mas, sem dúvida alguma, a organização política dos negros nesse país desenvolve um papel que a gente considera fundamental para provocar a mudança social. APRESENTADORA KÁTIA SARTÓRIO: Este é o Bom Dia, Ministro. Você está ouvindo e assistindo, não é, pelo rádio e pela televisão, a Ministra Luiza Bairros, da Secretaria de Promoção da Igualdade Racial. Ministra, vamos agora conversar com a Rádio Iguaçu 830 AM, de Curitiba, no Paraná. Edinei Kicot, bom dia. REPÓRTER EDINEI KICOT (Rádio Iguaçu 830 AM / Curitiba - PR): Bom dia, Sra. Ministra. Bom dia, Kátia. APRESENTADORA KÁTIA SARTÓRIO: Bom dia. REPÓRTER EDINEI KICOT (Rádio Iguaçu 830 AM / Curitiba - PR): É um prazer poder participar do programa Bom Dia, Ministro. Me permita ainda, Sra. Ministra, abordar ainda um tema importante da questão do Estatuto da Igualdade Racial. Sra. Ministra, quais as principais ações do governo federal em relação ao cumprimento da Lei 12.288, de 20 de julho de 2010, ou seja, Ministra, a lei que instituiu o Estatuto da Igualdade Racial? MINISTRA LUIZA BAIRROS: Veja só, Edinei, em função... principalmente em função do Estatuto, nós tivemos condição no ano passado, de desenvolver no governo federal um trabalho que eu considero extremamente profícuo no sentido de fazer com que o Plano Plurianual para esse período 2012/2015, incorporasse vários compromissos de diferentes ministérios em relação a essa questão da promoção da igualdade racial. Então, como você sabe, nós temos no país uma política nacional de saúde da população negra que, hoje, foi transformada em lei na prática pelo Estatuto, o que fez com que o Ministério da Saúde inserisse na sua programação, entre as suas iniciativas, aquilo que a gente precisa fazer para finalmente implementar essa política de saúde da população negra, fazer com que ela chegue ao Sistema Único de Saúde. Do mesmo modo, através desse processo, nós estabelecemos vários compromissos em diferentes ministérios que já começam a vigorar esse ano, no sentido de ter ações muito bem recortadas, dirigidas às comunidades quilombolas do país, que vão... ações essas que vão desde a questão da assistência técnica e extensão rural, até aquelas ações mais tradicionais que já vínhamos fazendo no sentido de fazer com que serviços de luz e de água cheguem até às comunidades. Do mesmo modo, naquilo que se refere à educação, como eu já tinha mencionado, a questão da implementação da história e da cultura africana e afrobrasileira nas escolas, paralelamente a isso nós da Seppir, juntamente com Petrobras, Fundação Roberto Marinho e outras organizações, vamos, esse ano, expandir um projeto chamado "A Cor da Cultura", que é um projeto muito rico, porque ele associa a produção de material audiovisual didático e paradidático, e formação de professores, para fazer com que efetivamente esses conteúdos cheguem dentro da sala... da sala de aula. Igualmente nós temos como possibilidade - isso já orientados por aquilo que fala o Estatuto - uma ação iniciada com a Secretaria de Comunicação da Presidência da República, que trata exatamente da questão da diversidade racial na publicidade institucional, e o que nós poderemos fazer enquanto governo nessa publicidade, como efeito demonstração para outras agências, é na questão da publicidade de empresas privadas. Eu dei aqui apenas alguns exemplos, mas são coisas muito concretas que vêm sendo levadas exatamente no sentido da aplicação do Estatuto da Igualdade Racial. APRESENTADORA KÁTIA SARTÓRIO: Você tem outra pergunta, Edinei Kicot, da Rádio Iguaçú 830 AM, de Curitiba? REPÓRTER EDINEI KICOT (Rádio Iguaçú 830 AM / Curitiba - PR): Com certeza, Kátia, se você me permite. APRESENTADORA KÁTIA SARTÓRIO: Pois não. REPÓRTER EDINEI KICOT (Rádio Iguaçú 830 AM / Curitiba - PR): A senhora Ministra, sem dúvida, demonstra a grande preocupação do governo federal quando à questão racial diante do que nós podemos observar com o Estatuto. E, ao mesmo tempo, também, Ministra, me permite, são 25 programas de diferentes áreas de atuação do governo federal, cujo esse tema foi incorporado. MINISTRA LUIZA BAIRROS: Exato. REPÓRTER EDINEI KICOT (Rádio Iguaçú 830 AM / Curitiba - PR): Qual a expectativa que a senhora tem, a partir desse trabalho e da incorporação, nesses 25 programas diferentes? MINISTRA LUIZA BAIRROS: Olha, essa sua questão é bastante oportuna, Edinei, porque me dá a chance, exatamente, de ressaltar um fato que nós consideramos um salto qualitativo muito importante, realizado no governo federal, com relação a essa agenda. Como vocês sabem, esse Plano Plurianual, não é, onde o governo estabelece quais são os compromissos que ele tem para cumprir em um período de quatro anos, o Plano Plurianual, ele tem 65 programas temáticos; desses 65 programas, 25 se referem à questão racial. Então, isso dá, para nós, muito bem, a dimensão de como essa questão ampliou dentro do governo federal, de como nós temos, hoje, um número extremamente expressivo de ministérios com compromissos muito bem definidos nessa área e, o que é mais importante, com essa possibilidade de definir recursos, não é, orçamentários para a realização das atividades. De uma certa forma, nós consideramos, na Seppir, que esse... No ano passado, no nosso primeiro ano de gestão, foi o grande ganho, do ponto de vista político, que tivemos, porque, na medida em que a gente consiga trabalhar isso bem, e eu acho que nós estamos conseguindo, os impactos na vida das pessoas negras, certamente, serão sentidos. APRESENTADORA KÁTIA SARTÓRIO: Ministra Luiza Bairros, vamos, agora, à Rádio Pioneira AM, de Teresina, no Piauí, onde está Gil Costa. Bom dia, Gil. REPÓRTER GIL COSTA (Rádio Pioneira AM / Teresina - PI): Bom dia, Kátia. Bom dia, Ministra Luiza Bairros. MINISTRA LUIZA BAIRROS: Bom dia. REPÓRTER GIL COSTA (Rádio Pioneira AM / Teresina - PI): Eu pergunto à senhora, assim: de forma concreta, dá para a gente sentir que, de fato, essa questão da discriminação, ela tem sido... Ela tem arrefecido a partir da implantação do Estatuo da Igualdade Racial? Dá para sentir que, realmente, nós estamos, enquanto país, caminhando para se respeitar mais a raça negra nesse país? E também quero perguntar à senhora, logo, com relação a essa questão da renda e do emprego para o pessoal de raça negra, se o Estatuto também tem ‘visibilizado’ isso de forma mais concreta. MINISTRA LUIZA BAIRROS: Eu não tenho dúvida que o país tem se modificado, ao longo do tempo, em relação a essa questão racial. É sempre bom a gente citar, como exemplo, o que aconteceu no censo demográfico de 2010. Pela primeira vez, o censo registra, oficialmente, a população negra no país como mais de 50%. Então, isso é uma coisa muito importante, porque dá bem a dimensão de como as pessoas negras perderam, não é, a vergonha ou o receio de se declararem como negras. E isso é um indicador muito forte da mudança social que nós temos experimentado. Agora, como eu tenho dito, quando se trata de uma luta que envolve mudança da maneira de pensar, a nossa vigilância, ela não para nunca. Nós temos que estar sempre atentos para outras possibilidades de casos de racismo que aconteçam, mas o importante é que esses casos de racismo não acontecem mais dentro do mesmo ambiente, são casos que acontecem dentro de um ambiente onde esse tipo de prática é repudiado por uma parcela muito grande da sociedade, em um ambiente onde existem leis que punem esse tipo de prática e, mais do que isso, em um ambiente onde você tem um estado e, mais especificamente, um governo com um compromisso muito explícito no sentido de promover a igualdade racial. Agora, naquilo que se refere à questão do trabalho, o que nós temos é que fazer, ainda, muitas ações diferenciadas para fazer com que as pessoas negras possam participar do mercado de trabalho com mais vantagens. Posso dar, aqui, um exemplo do trabalho que desenvolvemos, no caso da Seppir, junto com a Secretaria das Mulheres, em relação àquilo que se refere ao trabalho doméstico, porque o trabalho doméstico continua sendo a ocupação que, individualmente, absorve o maior contingente de mulheres negras no país, e, embora seja uma ocupação que já mudou muito do ponto de vista, inclusive, da remuneração, isso, principalmente, no Sul e Sudeste, no Nordeste e Norte brasileiro, você ainda encontra pessoas, no trabalho doméstico, em condições de desvantagem muito absoluta, mas a verdade é que fizemos um trabalho muito bom junto à Organização Internacional do Trabalho, ao longo do ano passado, que resultou na adoção de uma Convenção Internacional para o Trabalho Doméstico Decente. O governo brasileiro teve um papel fundamental, sob a liderança do Ministério das Relações Exteriores, diga-se de passagem, e isso implica no quê? Isso implica em que nós possamos, agora, no Brasil, fazer mudanças na legislação do trabalho doméstico, equiparando esse trabalho a outras categorias. Então, isso... Só com isso, a gente pega, no Brasil, uma categoria de sete milhões de pessoas. Então, isso tem uma importância muito fundamental para nós. O que nós temos feito, em relação a isso, é não exatamente mexer diretamente na questão do trabalho, mas mexer naquelas condições que criam possibilidades de uma participação mais vantajosa no mercado de trabalho. Então, nossa aposta tem sido na questão da educação, que, no Brasil, continua sendo um fator fundamental para se conseguir melhores salários, e, dentro disso, tem uma importância muito grande esse programa do governo federal, que é o Pronatec, um programa de acesso ao ensino profissionalizante e ao emprego. E, para o Pronatec, nós temos mobilizado as organizações negras que possam trabalhar também no sentido de estimular a juventude negra a participar dessas oportunidades de expansão do ensino profissional no Brasil. APRESENTADORA KÁTIA SARTÓRIO: Gil Costa, da Rádio Pioneira AM, de Teresina, no Piauí, você tem outra pergunta? REPÓRTER GIL COSTA (Rádio Pioneira AM / Teresina - PI): Tenho, sim. Eu queria só perguntar à Ministra qual é o tratamento que tem sido dado, do Ministério, para as nossas comunidades quilombolas aqui no Piauí. Nós temos alguns remanescentes de negros, principalmente em Amarante, que é uma cidade histórica, que faz... Que fica próximo ao Maranhão, e tal comunidades interessantíssimas, com uma história rica. E nós queríamos saber da Ministra se ela tem conhecimento disso, quantas comunidades nós temos, hoje, no Piauí. Como é que está esse tratamento, essa assistência, esse acompanhamento, para que essas comunidades, elas sobrevivam às discriminações, à falta de estrutura que, normalmente, elas enfrentam? MINISTRA LUIZA BAIRROS: Olha, em relação às comunidades quilombolas, isso é uma pauta importante, dentro da Seppir, desde que o Ministério foi criado. Nós fizemos, a partir do ano passado, uma pequena mudança de abordagem em relação às políticas para essas comunidades e uma mudança de abordagem que requer, fundamentalmente, o engajamento dos governos estaduais na relação do trabalho com as comunidades, porque muito da dificuldade que nós sentimos em fazer com que os serviços cheguem nesses lugares tem a ver com o fato de que os governos estaduais não têm, construídas, as estruturas que são necessárias para poder fazer esse tipo de atendimento. Para você ter uma ideia, para fazer com que o saneamento chegue, para fazer com que chegue uma sala de aula, coisas desse tipo, é preciso que, em contato conosco, o governo estadual faça os projetos técnicos necessários para que a gente mobilize os recursos federais que estão disponíveis para isso. Então, nós temos trabalhado, com alguns planos estaduais, em vários lugares do Brasil, exatamente isso, para poder permitir uma aproximação nossa maior com o governo do estado, fazer com que o governo do estado crie as estruturas que são necessárias para fazer, como eu disse, com que os recursos cheguem na comunidade. E o Piauí está listado entre esses dez estados brasileiros onde nós damos a prioridade para a realização desses trabalhos. Vamos ver as respostas, não é, que o próprio governo estadual nos dá nesse sentido, para fazer com que essas comunidades se aproximem mais daquilo que é um direito delas, que é o desenvolvimento, sem dúvida alguma. APRESENTADORA KÁTIA SARTÓRIO: A Ministra da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial, Luiza Bairros, é a nossa convidada de hoje no programa Bom Dia, Ministro, esse programa que é coordenado e produzido pela Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República, em parceria com a EBC Serviços. Ministra, vamos continuar rodando o país. Agora, vamos para Minas Gerais, Juiz de Fora, Rádio Itatiaia, de Juiz de Fora, onde está Luismar Mendes. Bom dia, Luismar. REPÓRTER LUISMAR MENDES (Rádio Itatiaia / Juiz de Fora - MG): Bom dia, Kátia. Bom dia, Ministra Luiza Bairros. Bom dia, ouvintes. Ministra, em relação ao Protocolo de Intenções assinado com a Petrobras, a companhia deve explicitar, em seus processos de seleção de patrocínios, critérios que valorizem projetos voltados para a promoção da igualdade racial. Como seria esse processo na prática, Ministra? MINISTRA LUIZA BAIRROS: Eu vou, na verdade, te responder isso com um exemplo, Luismar. Eu tive acesso, na semana passada, a uma lista de grupos que receberam patrocínio de uma empresa estatal, aqui no Brasil, patrocínio na área de teatro, por exemplo, ok? Entre os projetos, as produções que foram contempladas, cerca de 30, talvez, em todo o país, não havia nenhum projeto ligado ao teatro negro. No entanto, nós sabemos que vários grupos e companhias teatrais, por sinal de grande qualidade, grupos e companhias negras, não é, de teatro, mandaram suas propostas para esse edital. Então, o que isso denota? O que isso denota? Isso indica que não existe, dentro desse edital, nenhum tipo de incentivo ou de pensamento, por exemplo, de que as expressões negras de teatro também fazem parte da cultura brasileira. Isso denota, também, que, muito provavelmente, dentro das comissões julgadoras desses projetos, dessas produções, não havia pessoas com esse tipo de pensamentos ou esse tipo de sensibilidade para o que é a diversidade na cultura brasileira. Então, o que nós vamos fazer com a Petrobras é exatamente isso, é colocar, dentro dos mecanismos que existem para a seleção das produções, critérios que passem a valorizar aquilo que representa também a cultura e a arte negra no país. Uma coisa que eu sempre tenho dito é o seguinte: se nós não alterarmos os padrões do patrocínio cultural no Brasil, pelo menos naquilo que diz respeito às estatais, nós vamos estar fazendo uma afirmação equivocada, uma afirmação de que o talento é uma especificidade da parcela branca da população. É isso que nós estaremos dizendo. Então, para que isso se reverta, é preciso, sim, que a gente tenha, do ponto de vista dessas empresas que fazem esse patrocínio, como a Petrobras vai fazer agora, ela, conscientemente, assumir que o talento pode estar em qualquer lugar, que a excelência pode ser produzida a partir das manifestações, das expressões culturais de qualquer grupo racial. APRESENTADORA KÁTIA SARTÓRIO: Luismar Mendes, você tem outra pergunta? REPÓRTER LUISMAR MENDES (Rádio Itatiaia / Juiz de Fora - MG): No caso, eu posso fazer uma outra pergunta? APRESENTADORA KÁTIA SARTÓRIO: Sim, pois não. REPÓRTER LUISMAR MENDES (Rádio Itatiaia / Juiz de Fora - MG): Então, eu gostaria de fazer uma outra pergunta. Ministra, de uma maneira geral, como a senhora avalia o contexto atual no que diz respeito à convivência entre diversas etnias, que é uma realidade puramente brasileira, e se, no caso, nós avançamos em que e onde ainda devemos melhorar? MINISTRA LUIZA BAIRROS: Olha, nós avançamos do ponto de vista da nossa consciência social sobre a existência de um problema. Isso é que eu considero o fundamental. Esse programa que nós estamos tendo, aqui, agora, essa conversa que nós estamos tendo, aqui, agora, é uma medida desse avanço. O Brasil reconhece isso como uma questão que tem que ser abordada de várias formas e a partir de várias dimensões. O que nós temos para fazer é praticamente tudo, eu diria, não é? Por quê? Porque o grau de exclusão da população negra dos lugares mais valorizados da sociedade brasileira, ele foi muito profundo, se processou durante a maior parte da história do país. Então, você tem, ainda, um caminho muito longo a seguir com relação a isso. Você veja, por exemplo: baseado em que informação nós trabalhamos? Naquilo que se refere à educação, que é uma ênfase importante do trabalho que o governo tem realizado, você vai ver o seguinte: nós conseguimos, através das ações afirmativas e de outras medidas, aumentar a presença negra no Ensino Superior do Brasil, mas não conseguimos, ainda, eliminar o diferencial, em termos de anos de estudo, que existe entre brancos e negros no país. Quer dizer, nós vimos, ao longo de décadas e décadas e décadas, existe uma diferença de dois anos de estudo entre brancos e negros, no Brasil, que a gente não conseguiu diminuir ainda. Isso diz o quê? Isso diz que a gente vai ter que forçar muito mais ainda, do ponto de vista de ações que permitam não só o acesso das pessoas negras ao ensino, mas a permanência delas lá. Nós temos, ainda, um gargalo grande no Ensino Médio. As pessoas negras entram no Fundamental, mas não conseguem concluir os nove anos de estudo. Então, a gente vai ter que criar, aí, algumas iniciativas no sentido de fazer... De garantir essa permanência. APRESENTADORA KÁTIA SARTÓRIO: Ministra Luiza Bairros, vamos, agora, a Recife, em Pernambuco, conversar com a Rádio CBN, de Recife. Jofre Melo, bom dia. REPÓRTER JOFRE MELO (Rádio CBN / Recife - PE): Bom dia, Kátia. Bom dia, Ministra Luiza Bairros. Ministra, a minha pergunta é no tocante à questão da educação de base e referindo-se, aí, aos reflexos da criação desse programa específico de enfrentamento ao racismo, o Estatuto da Igualdade Racial. Então, que ações o governo federal tem pretendido fazer lá na raiz do problema, ou seja, se as crianças, se os jovens, se as pessoas começarem a ser educadas com esse Estatuto e com a ideia, o ideal da igualdade racial, chegariam já com outro reflexo, com outra formação, à idade adulta e, consequentemente, com um grau, também, de igualdade nas opções e nas oportunidades de ensino. Então, existe, dentro dessas ações governamentais, algo que se trabalhe lá no começo da educação? MINISTRA LUIZA BAIRROS: Sim, sem dúvida. Eu mencionei, antes, o projeto A Cor da Cultura, que é um projeto realizado dentro de uma parceria bem ampla, exatamente no sentido de incentivar e estimular a adoção do ensino, da história e da cultura africana e afro-brasileira nas escolas. Por que a gente dá tanta ênfase a isso? Porque existem estudos, com populações específicas, que foram feitos por educadoras negras, principalmente, que dão conta do seguinte: as situações de discriminação sofridas pelas crianças negras na sala de aula tem sido um fator fundamental para o abandono da escola por essas crianças. Tanto é assim que tem muitos educadores que, hoje, falam... Não falam mais em evasão escolar, falam em mortalidade escolar, porque as crianças saem e não retornam mais para a escola. Então, o que você precisa? Você precisa, dentro da escola, criar um tipo de ambiente onde essas crianças não se sintam como se fosse algo estranho à vida daquela comunidade. É preciso que elas se sintam incluídas, é preciso que as situações de discriminação que elas sofrem sejam enfrentadas, dentro da escola, pelas professoras, etc. Em função disso, justamente, é que, depois de ter trabalhado, desde 2005, com esse projeto A Cor da Cultura na formação de professores do Ensino Fundamental, nós vamos, a partir desse ano, dar uma ênfase no trabalho com os professores da Educação Infantil, não é, exatamente para fazer com que já desde as primeiras séries, não só as professoras estejam preparadas para encarar essas situações de discriminação em que as crianças negras são envolvidas, mas que as próprias crianças se... Como é que eu digo? Se reforcem, não é, no sentido de se sentirem como parte de uma realidade que é uma realidade positiva, da qual elas não precisam sentir vergonha. Então, o que eu estou falando, aqui, é de um outro passo que tem que ser dado, para além daquele que o Brasil já conseguiu, que é de ter universalizado as primeiras séries de ensino, e você tem, aí, índices superiores a 90% de matrícula entre crianças, no Brasil. Agora, você precisa pensar é nesses conteúdos que são dados, na qualidade daquilo que a escola oferece como meio de ser um lugar, um espaço, onde todas as crianças se sintam valorizadas. APRESENTADORA KÁTIA SARTÓRIO: Ministra Luiza Bairros, vamos, agora, ao Maranhão, a Timon, no Maranhão, conversar com a Rádio Comunitária Timon FM. Lá, nós temos Leal Filho e Márcio Beckmann. Bom dia para os dois. Eu sei que o Leal Filho faz a primeira pergunta, não é isso? REPÓRTER LEAL FILHO (Rádio Comunitária Timon FM / Timon - MA): Bom dia, Ministra. Bom dia, Kátia. Bom dia a todos que estão aí no estúdio e a todo o Brasil que está nos ouvindo. APRESENTADORA KÁTIA SARTÓRIO: É o Leal? REPÓRTER LEAL FILHO (Rádio Comunitária Timon FM / Timon - MA): Oi. APRESENTADORA KÁTIA SARTÓRIO: É o Leal, você, não é? Leal Filho. E o Márcio está aí com você? REPÓRTER LEAL FILHO (Rádio Comunitária Timon FM / Timon - MA): Está aqui conosco. APRESENTADORA KÁTIA SARTÓRIO: Está certo. REPÓRTER MÁRCIO BECKMANN (Rádio Comunitária Timon FM / Timon - MA): Bom dia, Kátia. APRESENTADORA KÁTIA SARTÓRIO: Bom dia, Márcio. REPÓRTER LEAL FILHO (Rádio Comunitária Timon FM / Timon - MA): Bom dia. Nós estamos, ao vivo, também, aqui, tanto pelo nosso portal, portaltimonfm.com.br, como com a rádio, aqui, para toda a nossa região. REPÓRTER MÁRCIO BECKMANN (Rádio Comunitária Timon FM / Timon - MA): Falando para o Piauí e o Maranhão. APRESENTADORA KÁTIA SARTÓRIO: Piauí e Maranhão. Bom dia, Ministra. MINISTRA LUIZA BAIRROS: Bom dia. REPÓRTER LEAL FILHO (Rádio Comunitária Timon FM / Timon - MA): O Estatuto da Igualdade Racial passou a vigorar a partir de 2010, de acordo com a Lei 12.288/2010. O Estatuto trata de vários temas: saúde, educação, comunidades quilombolas, etc., etc. Agora, desde a sua implantação, Ministra, a senhora acha que já melhorou, já está surtindo efeito? E, na nossa região, a quem recorrer se houver discriminação e a gente possa presenciar? Bom dia. MINISTRA LUIZA BAIRROS: Não, ele já está, obviamente, já está em vigor, não é, Leal Filho? E nós já fizemos, como eu exemplifiquei, aqui, antes, várias iniciativas para a efetivação do Estatuto. Uma delas, como ressaltei, é o Sistema Nacional de Promoção da Igualdade Racial, que nós devemos, até maio desse ano, concluir. Mais especificamente, criamos, sob a coordenação da Seppir, um grupo de trabalho que tem oito ministérios que participam, que estão fazendo uma análise, uma varredura, do Estatuto, exatamente para saber onde é que falta a nossa ação, onde que a nossa ação tem que incidir, onde o Estatuto deve ou não deve ser regulamentado. E isso produziu, já, resultados, entendeu, que são resultados muito bons e importantes para nós. Dentro disso, além do Sinapir, nós temos trabalhado o fortalecimento da Ouvidoria Nacional de Promoção da Igualdade Racial, que é um pilar muito importante do sistema, porque a ouvidoria, exatamente, faz essa ponte entre o Poder Público e a cidadania. Então, essas queixas em relação à discriminação podem ser encaminhadas para a nossa ouvidoria. Em relação a isso, também já temos mapeado o fato de que deveremos regulamentar aquilo que o Estatuto coloca em relação à institucionalização do capoeirista como uma profissão, como uma atividade profissional. Esse é um outro aspecto, também, naquilo que se refere à cultura. E, como já mencionei, iniciativas, também, relacionadas aos meios de comunicação. O Estatuto, como você sabe, é amplo. Eu não vou poder, aqui, exemplificar cada uma das áreas, mas o que é importante, também, em relação a casos de discriminação que aconteçam aí no Maranhão, as pessoas devem, sempre, quando são discriminadas... A primeira providência é fazer um registro na delegacia da Polícia Civil. Isso é a coisa fundamental, ter uma testemunha, fazer o registro e, a partir disso, procurar outros órgãos, não só a nossa ouvidoria, mas, também, aí, no caso, o Ministério Público Estadual. APRESENTADORA KÁTIA SARTÓRIO: Agora, a pergunta é de Márcio Beckmann, da Rádio Comunitária Timon FM, do Maranhão. Bom dia, Márcio. Pode fazer a sua pergunta. REPÓRTER MÁRCIO BECKMANN (Rádio Comunitária Timon FM / Timon - MA): Bom dia, Kátia. É um prazer, novamente, nós estarmos participando do Programa Bom Dia, Ministro. Bom dia, Ministra. MINISTRA LUIZA BAIRROS: Bom dia. REPÓRTER MÁRCIO BECKMANN (Rádio Comunitária Timon FM / Timon - MA): É um prazer estar falando com a senhora, uma liderança para o nosso país, trazendo a promoção da igualdade racial para todos os negros, não é, do Brasil. Ministra, a minha pergunta é sobre a questão do Estatuto. Recém em vigor, pela Lei 12.288, não é, tem um, dois anos, mas a minha grande preocupação, e a preocupação da sociedade em geral, é o desconhecimento do Estatuto, não é? A efetivação da igualdade, dessa oportunidade, desses direitos individuais, coletivos e difusos, que são garantidos aos negros, porque falta uma política de estado para que, realmente, seja colocado, na população, não é, os direitos e as garantias do negro. Porque o que a gente vê mais a difusão é das quotas em universidades, sobre os crimes que são praticados contra o negro, é aquela questão, por exemplo, de não ter fiança. Por que não levar essa discussão maior, não é, nos meios de comunicação, como está sendo feito brilhantemente pelo Programa Bom Dia, Ministro? Quais são as políticas? MINISTRA LUIZA BAIRROS: Olha, já tem alguma coisa, Márcio, já tem muita coisa. Já tem muita coisa com relação a isso, que nós fomos, ao longo do programa, descrevendo aqui para vocês. Mas, especificamente, em relação a essa coisa da divulgação, mesma, do Estatuto, esse ano, nós vamos desenvolver uma campanha de comunicação mais específica. O Estatuto, às vezes, é um pouco difícil de você divulgar, porque ele trata de muitos aspectos ao mesmo tempo. Então, nós estamos, aí, conversando com quem nos assessora nessa área, exatamente pensando em como a gente faz uma divulgação a partir de determinados temas mais importantes e mais candentes dentro dessa nova lei. APRESENTADORA KÁTIA SARTÓRIO: Ministra Luiza Bairros, vamos, agora, conversar com a Rádio Nacional AM, aqui de Brasília. Válter Lima, bom dia. REPÓRTER VÁLTER LIMA (Rádio Nacional AM / Brasília - DF): Olá, Kátia. Bom dia. Bom dia, Ministra. Rapidamente, Ministra, um dos fatores que enriquece a nossa cultura é a pluralidade étnica na formação do povo brasileiro, o que deixa orgulhosos seus descendentes, os quais, inclusive, têm o amparo legal de buscarem, nos respectivos países de seus avós, a sua segunda cidadania. Italianos, alemães, poloneses e japoneses, entre outros, nascidos aqui no Brasil, têm documentos de suas origens. Entretanto, os descendentes de africanos, que também nasceram aqui, ao que parece, não se sentem estimulados a fazerem o mesmo. Existiria uma explicação sobre isso, Ministra? MINISTRA LUIZA BAIRROS: A questão não é estímulo, a questão é a diferença de como cada um desses grupos étnicos chegou ao Brasil, não é? Os descendentes de europeus, quando começaram a vir, especialmente depois da segunda metade do século XIX, eles chegaram aqui com os seus documentos, sabendo exatamente de onde vieram. O processo de imigração europeia foi muito sentido, um processo organizado, foi um processo estimulado, do lado de cá, pelo governo brasileiro, através de leis muito específicas, não é, estimulando essa vinda europeia para o Brasil. Processo totalmente contrário é o que acontece com os negros, que foram sequestrados do continente africano, chegaram aqui sem qualquer tipo... Com um processo, com uma organização muito grande para que essas pessoas perdessem todas as referências que tinham no continente. Quer dizer, eu não consigo dizer, a maioria das pessoas negras, no Brasil, não conseguem dizer de que região, exatamente, vieram, a quem são ligadas, etc. Então, eu acho que isso, essa consequência, é uma dimensão da perversidade desse processo de transposição forçada dos negros do continente africano para o Brasil, diferentemente dos europeus, que embora tenham vindo em condições difíceis, etc., etc., mas vieram trazendo as suas próprias identidades, e uma identidade que era valorizada no país para onde eles vieram. APRESENTADORA KÁTIA SARTÓRIO: Obrigada, Válter Lima, da Rádio Nacional AM, aqui de Brasília, e obrigada, também, Ministra Luiza Bairros, da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial, por, mais uma vez, participar conosco do Bom Dia, Ministro. MINISTRA LUIZA BAIRROS: Obrigada a vocês por essa oportunidade. APRESENTADORA KÁTIA SARTÓRIO: E a todos que participaram conosco dessa rede, muito obrigada e até a próxima edição.