18/02/2011 - O Brasil é um país sem inimigos, diz Patriota

A promoção da paz mundial continua sendo o principal propósito da diplomacia brasileira. A afirmação foi feita pelo ministro das Relações Exteriores Antônio Patriota, ao ser indagado sobre a relação do país com o governo iraniano. A visita do presidente dos Estados Unidos Barack Obama ao Brasil e a ida da presidenta Dilma Rousseff à China também foram assuntos do Bom dia, ministro.

18/02/2011 - O Brasil é um país sem inimigos, diz Patriota

A promoção da paz mundial continua sendo o principal propósito da diplomacia brasileira. A afirmação foi feita pelo ministro das Relações Exteriores Antônio Patriota, ao ser indagado sobre a relação do país com o governo iraniano. A visita do presidente dos Estados Unidos Barack Obama ao Brasil e a ida da presidenta Dilma Rousseff à China também foram assuntos do Bom dia, ministro.

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Publicado em 12/12/2016 18:20

APRESENTADORA KÁTIA SARTÓRIO: Olá, amigos em todo o Brasil. Eu sou Kátia Sartório, e começa, agora, mais uma edição do programa Bom Dia, Ministro. O programa tem a coordenação e a produção da Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República, em parceria com a EBC Serviços. Hoje, aqui nos estúdios da EBC Serviços, o Ministro das Relações Exteriores, Antonio Patriota. Bom dia, Ministro. Seja bem-vindo. MINISTRO ANTONIO PATRIOTA: Bom dia, Kátia. Bom dia a todos. APRESENTADORA KÁTIA SARTÓRIO: Na pauta do programa de hoje, os preparativos para a visita do presidente dos Estados Unidos ao Brasil, Barack Obama; e também a visita da presidenta Dilma Rousseff à China, em abril deste ano. O ministro Antonio Patriota vai explicar, também, a importância do Brasil no cenário global, a atuação no Haiti, na África, e o atual papel na Organização das Nações Unidas e nas discussões sobre a reforma da Governança Global. O Ministro das Relações Exteriores, Antonio Patriota, já está aqui no estúdio e começa, agora, a conversar com âncoras de emissoras de rádio de todo o país. Ministro, já está na linha a Rádio Itatiaia, de Belo Horizonte, em Minas Gerais. A pergunta vem de Carlos Viana. Bom dia, Carlos. REPÓRTER CARLOS VIANA (Rádio Itatiaia / Belo Horizonte - MG): Bom dia, Kátia. Bom dia ao ministro Patriota. Em primeiro lugar, parabéns a ele pelo cargo, pela escolha como Ministro das Relações Exteriores, mas nem tudo são flores, não é, Ministro? Nós temos um cenário próximo, com essas duas visitas, bem interessante para o Brasil. Os Estados Unidos, no passado, nosso primeiro parceiro, e com uma série de restrições a produtos que interessam muito, principalmente aos mineiros, o aço; e, agora, a China, como primeiro parceiro, deixando a economia brasileira em uma situação, vamos dizer, frágil diante da quantidade de importados. O Ministério do Desenvolvimento Econômico está se propondo a programas que restrinjam as importações, e eu quero saber se a presidente Dilma vai tratar desse assunto nessa visita à China, e exatamente o que ela pretende com os chineses em uma contrapartida que equilibre esse relacionamento, hoje, com o principal parceiro exportador do Brasil.MINISTRO ANTONIO PATRIOTA: Bom dia, Rádio Itatiaia, e prazer estar com você, Carlos Viana. Olha, a relação com a China é uma relação cada vez mais importante para o Brasil. A China se tornou nosso primeiro parceiro comercial já em 2009; em 2010, continuou nessa posição. E se é bem verdade que existem aspectos do relacionamento que precisam ser examinados com muito cuidado, porque nossa pauta exportadora é, sobretudo, composta por produtos de base, enquanto que nós importamos principalmente manufaturados e bens de capital, não devemos esquecer que nós estamos tendo um superávit bem robusto com a China. No ano de 2010, esse superávit foi de 5.2 bilhões, ou seja, o desequilíbrio também funciona a nosso favor, neste momento. Além do mais, o Brasil tem atraído muito investimento chinês. A China foi o principal investidor no Brasil, em 2010, e continua interessada em investir, não só para que aumentemos a produção de minério de ferro, de aço, de outros produtos em que Minas Gerais se destaca muito, mas também está interessada nos projeto de infraestrutura, nos projetos relacionados à Copa do Mundo, aos Jogos Olímpicos, de modo que eu acho que é um relacionamento intenso, complexo, mas que pode ser mutuamente benéfico. E é nesse espírito que a presidenta Dilma Rousseff deverá viajar até Pequim: encontrar um equilíbrio que seja o melhor possível para os dois países. APRESENTADORA KÁTIA SARTÓRIO: Carlos Viana, você tem outra pergunta? REPÓRTER CARLOS VIANA (Rádio Itatiaia / Belo Horizonte - MG): Sim. Ministro, no caso dos mineiros, por exemplo, os chineses são os grandes compradores do minério de ferro. As siderúrgicas que têm sede em Minas Gerais já tentaram essa contrapartida de montar investimentos na China e não foram permitidas, por uma questão de segurança nacional chinesa. Ou seja, eles podem investir aqui, comprar o minério, mas nós brasileiros não podemos abrir siderúrgicas lá na China. Isso não é um desequilíbrio nesse relacionamento, Ministro? MINISTRO ANTONIO PATRIOTA: Olha, esse aspecto, de fato, é um desequilíbrio. Outros aspectos são desequilíbrios em nosso favor. Então, é isso que eu quero dizer. Quando nós olharmos para o relacionamento em seu conjunto, haverá aspectos a serem debatidos com os chineses, e, para isso, foi criado um programa de ação conjunta em 2010, que inclui mecanismos de conversa e coordenação na área comercial, na área financeira, na área de investimentos. A visita da presidenta Dilma a Pequim, mais uma vez, em 13 de abril, permitirá que se abordem todas essas questões. Eu queria acrescentar, também, que a presidenta estará realizando, na China, uma visita que incluirá um encontro com os demais BRICs. Essa sigla BRICs, que já é conhecida de vocês, que foi criada por uma financeira norte-americana em Nova York, ela inclui Brasil, Rússia Índia, China e agora também a África do Sul. E os chineses organizarão, nos dias 14 e 15 de abril, eventos em que estarão, além da presidenta Dilma, além do presidente Hu Jintao, da China, também os chefes de estado da Rússia, da Índia e da África do Sul, em um encontro que deverá ser muito proveitoso e interessante para a coordenação de uma série de assuntos, inclusive os assuntos relacionados ao G-20. APRESENTADORA KÁTIA SARTÓRIO: Este é o programa Bom Dia, Ministro. Eu sou Kátia Sartório. Estamos, hoje, com o ministro Antonio Patriota, das Relações Exteriores. Ele conversa com âncoras de emissoras de rádio de todo o país, nesse programa que é multimídia: estamos no rádio e na televisão. No rádio e no satélite, no mesmo canal da Voz do Brasil. Ministro, vamos, agora, a Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, conversar com a Rádio Guaíba, onde está Marjulie Martine. Bom dia, Marjulie. REPÓRTER MARJULIE MARTINE (Rádio Guaíba / Porto Alegre - RS): Bom dia, Kátia. Bom dia, Ministro. Tudo bem? A primeira pergunta que eu gostaria de fazer... É claro que as duas são puxando a brasa para o assado do Rio Grande do Sul, mas a primeira é com relação a esse estreitamento de laços entre Brasil e China. A gente tem uma situação, aqui no Rio Grande do Sul, que foi uma verdadeira quebradeira que aconteceu nas indústrias calçadistas quando se começou a fazer o ingresso de calçados provenientes da China. A gente teve diversas empresas que quebraram. Muitas indústrias acabaram fazendo demissões em massa, e, hoje, a gente tem um grande coletivo de trabalhadores que saíram da indústria calçadista e que estão em outros ramos, enfim. Com esse estreitamento de laços entre Brasil e China, vai haver algum tipo de proteção às indústrias locais, e aí falando do setor calçadista em específico? MINISTRO ANTONIO PATRIOTA: Bom, em primeiro lugar, bom dia, Porto Alegre. Bom dia, Rádio Guaíba. Marjulie, olha, eu tenho até conversado um pouco com representantes do setor calçadista, mais de São Paulo, mas também do Rio Grande do Sul. Efetivamente, existe essa emergência da China no setor de calçados, que pode causar algum embaraço, algum desconforto ao produtor nacional. Eu não sou especialista no assunto, mas, quem sabe, os calçadistas brasileiros possam se especializar em certos nichos de qualidade que permitam se reestruturar e concorrer de forma mais competitiva no mercado internacional. Porque o fato é que com as mudanças todas operando muito aceleradamente no mundo, hoje em dia, o Brasil também emerge em setores específicos, em que desloca outros produtores. De modo que é um jogo em que temos que nos preparar, temos que cuidar da questão da competitividade da indústria nacional. Isso é um tema que está na agenda do governo. Eu tenho conversado com o ministro Pimentel, também, da Indústria e Comércio, sobre o assunto. Não é só através da proteção que nós conseguiremos superar essas dificuldades. Na verdade, a proteção geralmente desencadeia a proteção do outro lado também, e aí nós ficamos em uma situação que é negativa para todo mundo. Eu acho que o que nós temos que fazer é nos aparelharmos, nos prepararmos para competir no mercado que, sem dúvida, mais difícil, mais competitivo. Mas eu acredito que o Brasil tem condições de se afirmar em inúmeros setores, inclusive no calçadista. APRESENTADORA KÁTIA SARTÓRIO: Você tem outra pergunta, Marjulie? REPÓRTER MARJULIE MARTINE (Rádio Guaíba / Porto Alegre - RS): É com relação ao estreitamento de laços também aqui no Rio Grande do Sul, mais especificamente porque estamos mais próximos do Uruguai e da Argentina. A gente tem uma reclamação muito forte com relação aos produtores de trigo, também produtores de arroz, em especial essas duas situações, falando a respeito dos preços que são praticados pela Argentina e pelo Uruguai, em específico. O que eles dizem é que o Brasil aumentou, fez quase uma fronteira livre de comércio entre os países, mas que o produtor daqui do Brasil acaba sendo prejudicado pela entrada de trigo e de arroz, entre outros produtos, mais barato que o produto deles no mercado interno. Como é que se trabalha com esse também embaraço, como o senhor falou, com relação à questão da China? Porque o produtor vai acabar reclamando, vai querer, de novo, que o Brasil feche a fronteira, que reduza a quantidade de produto que está entrando no Brasil. Como vocês têm trabalhado isso?MINISTRO ANTONIO PATRIOTA: Olha, fechar fronteira nunca é a solução, ainda mais entre parceiros de uma união aduaneira, como são Brasil, Uruguai, Argentina; o Mercosul completando 20 anos, esse ano, e tendo estado na origem de um enorme crescimento comercial aqui no sul da América do Sul. Agora, situações específicas precisam ser examinadas. Existem mecanismos que permitem essa abordagem. Às vezes, a coisa é sazonal: durante certo período, quem está em dificuldade são os nossos produtores; dali a pouco, quem estará em dificuldade será o produtor do país vizinho. A realidade é que o Mercosul, como um todo, tem sido extremamente benéfico ao Brasil. Com a Argentina, nós temos, hoje em dia, um superávit de mais de US$ 4 bilhões. Com o Uruguai, estamos em um comércio um pouco mais equilibrado. É um mercado menor, mas eu acredito que, através da coordenação, da negociação, do diálogo, nós possamos encontrar um caminho também mutuamente benéfico. APRESENTADORA KÁTIA SARTÓRIO: Marjulie, outra pergunta? REPÓRTER MARJULIE MARTINE (Rádio Guaíba / Porto Alegre - RS): A respeito... Eu não sei... Aí eu já não sei se o Ministro tem informações a respeito disso, mas, de qualquer forma, não custa perguntar, não é? É com relação ao processo de extradição do empresário Luiz Henrique Sanfelice, aqui do Vale dos Sinos, no Rio Grande do Sul. Ele foi condenado aqui no Brasil, fugiu, foi parar na Espanha, e a Espanha divulgou que extraditou ele, agora, para o Brasil, mas ainda não houve um comunicado oficial da Espanha para a Interpol, para que ele possa voltar para o Brasil de forma mais concreta, enfim. Existe... Como é a relação do Brasil com os outros países nessa área criminal, digamos assim? Nesse caso em específico, mas em outros também. Se tem melhorado. A gente tem o caso do Jean Charles, há um tempo, também, que houve... Agora estão fazendo um filme, até, sobre o assunto. Como se tem trabalhado isso, principalmente na Europa, que é onde tem mais problema?MINISTRO ANTONIO PATRIOTA: Olha, o Itamaraty tem se reformado, inclusive, e reestruturado para lidar com o número crescente de brasileiros no exterior. Esse número cresceu, sobretudo, durante anos de maior dificuldade econômica interna no Brasil, que foi a década de 80 e 90. Hoje em dia, com o crescimento econômico mais acelerado, há muitos brasileiros voltando. De qualquer maneira, existe uma subsecretaria específica no Itamaraty que cuida dos brasileiros no exterior. Foi criado um conselho de representantes, no ano passado, que se reúne anualmente com representantes das comunidades nos diferentes países; aliás, a Espanha está representada, o Reino Unido e outros. E em casos específicos nós temos tratados de extradição, que aí... Enfim, as cláusulas não são sempre as mesmas, mas, com a Espanha em particular, temos desenvolvido um diálogo importante, em função até mesmo de dificuldades que brasileiros encontraram na chegada em Madri e em outros aeroportos espanhóis, nem sempre tão bem tratados como nós gostaríamos. Felizmente, essas dificuldades têm diminuído muito, em função desses mecanismos que estabelecemos para resolver questões. Enfim, como as relações com os países da União Europeia, de uma forma geral, são muito amistosas, nós temos uma parceria estratégica com a União Europeia, a expectativa é que consigamos superar as dificuldades que surjam também através de uma conversa amistosa, que envolva as autoridades dos dois países em um diálogo proveitoso. A Polícia Federal tem trabalhado muito também com a Interpol, não só aqui no relacionamento com países vizinhos, mas com outros; e, surgindo casos que envolvam criminalidade, etc., nós sempre podemos acionar a Polícia Federal. APRESENTADORA KÁTIA SARTÓRIO: Este é o programa Bom Dia, Ministro. Nosso convidado de hoje, o ministro Antonio Patriota, das Relações Exteriores, que conversa com âncoras de emissoras de rádio em todo o país. Lembrando que o áudio dessa entrevista vai estar disponível ainda hoje pela amanhã, na internet, na página da Secretaria de Imprensa da Presidência da República. Anote o endereço: www.imprensa.planalto.gov.br. Ministro Patriota, vamos, agora, ao Amazonas, Manaus. Rádio Amazonas, Patrick Motta, bom dia. REPÓRTER PATRICK MOTTA (Rádio Amazonas FM / Manaus - AM): Bom dia, Kátia Sartório, senhoras e senhores ouvintes, e bom dia, Ministro. MINISTRO ANTONIO PATRIOTA: Bom dia, Rádio Amazonas. Bom dia, Patrick.REPÓRTER PATRICK MOTTA (Rádio Amazonas FM / Manaus - AM): Ministro, trabalhar pela integração sul-americana é prioridade da política externa brasileira, de acordo com o seu ministério. Pergunto: como o senhor analisa a ação do Exército Brasileiro na operação de libertação de reféns das Farc e, ao mesmo tempo, a instalação, em território colombiano, de bases militares norte-americanas, Ministro? MINISTRO ANTONIO PATRIOTA: Olha, você tem toda a razão. A integração sul-americana é uma prioridade. Temos trabalhado intensamente nessa direção. A primeira visita da presidenta Dilma ao exterior foi à Argentina, que é o nosso principal parceiro comercial e um parceiro estratégico, fundamental na constituição e desenvolvimento do Mercosul. Para além do Mercosul, estamos trabalhando, também, para a integração no âmbito sul-americano como um todo, e a Unasul é o mecanismo criado para esse objetivo. Agora, há poucos dias, o Uruguai depositou o instrumento de ratificação do tratado da Unasul, e, com isso, o tratado entrará em vigor no dia 11 de março, de modo que é uma notícia muito boa para todos nós que estamos comprometidos com esse projeto de integração sul-americana. A América do Sul, de certa forma, é uma região privilegiada do mundo. É uma região onde há democracia, é uma região autossuficiente em alimento, em energia, em água. Aliás, a Amazônia, que é um reservatório de água, também, deve valorizar muito esse esforço. E você perguntou sobre as Farc e sobre bases americanas na Colômbia. Sobre as Farc, a ajuda brasileira é feita em um espírito de ajuda humanitária. Ela é solicitada pelo governo colombiano. Eu estive, recentemente, em Bogotá e pude receber, do presidente Juan Manuel Santos, manifestações de grande apreço pelo profissionalismo do nosso Exército e pela maneira como essa ajuda tem sido propiciada para que alguns reféns sejam libertados em território colombiano. A questão das bases americanas despertou alguma polêmica em 2008, 2009. A verdade é que, também, a sinalização que nós temos tido do governo colombiano é que agora o Congresso colombiano exigiu que o tratado para o estabelecimento das bases fosse ao Congresso, e o Executivo no país vizinho, da Colômbia, aparentemente, não tem intenção de submeter esse tratado ao Congresso para ratificação. De modo que está se transformando em um não assunto. APRESENTADORA KÁTIA SARTÓRIO: Patrick? REPÓRTER PATRICK MOTTA (Rádio Amazonas FM / Manaus - AM): Ainda temos mais um questionamento a fazer, Kátia Sartório. APRESENTADORA KÁTIA SARTÓRIO: Pois não.REPÓRTER PATRICK MOTTA (Rádio Amazonas FM / Manaus - AM): Durante o governo Lula, Ministro, o Brasil foi muito criticado pela aproximação com o governo do presidente iraniano Ahmadinejad. Qual deverá ser o papel da presidente Dilma Rousseff em relação ao Irã, no momento em que o mundo vive revoltas populares que culminaram, recentemente, em um primeiro momento, com a queda do ditador do Egito, isso além de ensaios em outros países que convivem com ditaduras, hein, Ministro? MINISTRO ANTONIO PATRIOTA: Olha, como eu costumo dizer, o Brasil é um país sem inimigos e é um país que busca o diálogo com todos os quadrantes do globo. Durante o governo Lula, nós aumentamos muito o número de embaixadas pelo mundo afora e também desenvolvemos novas coalizões; por exemplo, aquela que reúne Brasil, Índia e África do Sul, o IBAS, três grandes democracias do mundo em desenvolvimento. O Irã é um país importante na região de confluência entre o Oriente Médio e a Ásia. Consideramos que é interessante manter um diálogo com o governo iraniano, até mesmo para diminuir as tensões, porque o isolamento, às vezes, só exacerba o que já é uma situação preocupante e que pode levar a um conflito. A nossa preocupação principal, como um país amante da paz, como um país que construiu um entorno de paz aqui na América do Sul e que se relaciona bem com todos os seus vizinhos, é de contribuir também para a paz mundial. De modo que o que eu acho que houve não foi propriamente uma aproximação com o governo do presidente Ahmadinejad, e sim um esforço de contribuir para a criação de confiança entre países como Estados Unidos e o Irã, e contribuir para que houvesse uma solução diplomática para esta questão, que é uma das mais espinhosas, mais complicadas da agenda internacional. Aliás, continua sendo esse o propósito da diplomacia brasileira. APRESENTADORA KÁTIA SARTÓRIO: Este é o programa Bom Dia, Ministro. Eu sou Kátia Sartório. Estamos com o ministro Antonio Patriota, das Relações Exteriores. Ele conversa com âncoras de emissoras de rádio de todo o país, nesse programa que é multimídia: estamos, ao vivo, no rádio e na televisão. Lembrando que a NBR, a TV do governo federal, transmite a gravação dessa entrevista, ainda hoje à tarde, com horários alternativos também no final de semana, no sábado e no domingo. Ministro, vamos, agora, conversar com a Rádio CBN, aqui de Brasília, onde está Carolina Martins. Bom dia, Carolina.REPÓRTER CAROLINA MARTINS (Rádio CBN / Brasília - DF): Bom dia, Kátia. Bom dia, Ministro.MINISTRO ANTONIO PATRIOTA: Bom dia.REPÓRTER CAROLINA MARTINS (Rádio CBN / Brasília - DF): Ministro, eu tenho um questionamento sobre passaporte diplomático. O Ministério Público aqui do Distrito Federal e também a Ordem dos Advogados do Brasil, solicitaram a lista dos beneficiados com os passaportes diplomáticos, mas, até agora, o Itamaraty só divulgou o número, a quantidade de passaportes que foram emitidos. Eu queria saber se existe alguma resistência, se há alguma expectativa de quando a lista desses beneficiados possa ser divulgada. MINISTRO ANTONIO PATRIOTA: Olha, em primeiro lugar, eu acho importante sublinhar que, em um esforço de transparência, de resposta à opinião pública sobre essa questão dos passaportes diplomáticos, nós adotamos uma nova portaria, que estabelece novos procedimentos mais restritivos para a concessão de passaportes que não sejam aos diplomatas e a todos aqueles que já estão previstos recebê-lo em função de atividades que exercem. De modo que diminuirá, daqui para frente, o número de passaportes concedidos com base no poder discricionário do ministro das Relações Exteriores. E, além disso, sempre que forem concedidos, serão concedidos com grande transparência. Será publicado no site do Ministério a razão para a concessão desses passaportes, a duração e a justificativa para tal. A questão dos passaportes já concedidos nos últimos anos, nós respondemos as comunicações que foram feitas ao Ministério com esclarecimentos sobre a quais ministérios foram concedidos os passaportes e estamos examinando qual a melhor forma de atender a esses pedidos de divulgação dos nomes.APRESENTADORA KÁTIA SARTÓRIO: Você tem outra pergunta, Carolina? REPÓRTER CAROLINA MARTINS (Rádio CBN / Brasília - DF): Eu queria aproveitar, Ministro, então, para o senhor esclarecer quem tem direito a esse passaporte diplomático.MINISTRO ANTONIO PATRIOTA: Olha, tem direito, em primeiro lugar, os diplomatas, seus familiares, quem estiver exercendo uma função no exterior em nome do governo brasileiro. E, também, o Ministro das Relações Exteriores, o Ministério, no caso, tem direito de examinar situações especiais em que o passaporte poderá ser concedido. Por exemplo, uma pessoa que vai, a serviço do Brasil, desempenhar uma missão em um território que está conflagrado ou onde as condições de segurança são tais que o passaporte diplomático poderá oferecer uma garantia adicional de respeito à sua cidadania. Agora, sem dúvida, eu sou a favor, em primeiro lugar, que haja transparência e que não haja abuso na concessão desse passaporte. Com uma consideração adicional. Na verdade, o passaporte diplomático não traz grande benefício adicional ao passaporte comum. Eu queria dizer a todos os brasileiros que quem quiser viajar com um passaporte comum, o passaporte brasileiro já é muito respeitado, e eles gozarão de toda a deferência, toda a proteção necessária para um turista ou para uma pessoa que viaja ao exterior.APRESENTADORA KÁTIA SARTÓRIO: Este é o programa Bom Dia, Ministro. Estamos, hoje, com o Ministro Antonio Patriota, das Relações Exteriores. Ministro, vamos agora conversar com a Rádio Difusora, de Goiânia, em Goiás. Edson Rodrio, bom dia.REPÓRTER EDSON RODRIO (Rádio Difusora / Goiânia - GO): Bom dia, Kátia, um abraço. Bom dia, Ministro. A minha pergunta é em relação ao Battisti. O governo Lula tem dado uma certa proteção a este cidadão, Ministro. E o governo Dilma, de que forma tratará esse caso? Qual é a opinião do Ministro a respeito do assunto? MINISTRO ANTONIO PATRIOTA: Bom, em primeiro lugar, bom dia, Goiânia. O caso Battisti de fato tem despertado muita atenção, foi uma decisão tomada pelo governo anterior, ao apagar das luzes do governo Lula, e é uma decisão que se encontra agora no contexto do Judiciário, não é uma questão propriamente diplomática, com a qual eu tenha que me... Sobre a qual eu tenha que me debruçar nesse momento. Eu, enfim, me preocupo com ela apenas na medida em que possa trazer algum incômodo à relação do Brasil com a Itália, mas todas as indicações que nós temos do executivo italiano e também do legislativo são de grande apreço pela amizade que existe entre as duas populações, italiana e brasileira; o Brasil, como se sabe, foi o destino de numerosos imigrantes italianos. Hoje em dia se calcula mais de 20 milhões de brasileiros de origem italiana, espalhados pelo território inteiro, inclusive aqui, em Goiás, de modo que eu não identifico problema no relacionamento diplomático decorrente dessa situação, que é uma situação que seguirá seu curso judiciário.APRESENTADORA KÁTIA SARTÓRIO: Edson, você tem outra pergunta? Edson, Rádio Difusora... Perdemos o contato. Daqui a pouco a gente... Se ele quiser voltar com mais uma pergunta, a gente dá o espaço para ele. Vamos, então, conversar com a Rádio Difusora, só que agora de Mossoró, no Rio Grande do Norte. Jota Nobre, bom dia. REPÓRTER JOTA NOBRE (Rádio Difusora de Mossoró / Mossoró - RN): Bom dia, Kátia. Bom dia, Ministro.MINISTRO ANTONIO PATRIOTA: Bom dia, Mossoró. REPÓRTER JOTA NOBRE (Rádio Difusora de Mossoró / Mossoró - RN): A minha pergunta, ela está relacionada ao papel do Brasil em relação a determinados conflitos. Veja bem, há um conflito do Brasil, aqui, pelo poder das drogas. A gente sabe que a droga, ela campeia o Brasil praticamente inteiro e há uma guerra, vamos dizer, pelo poder das drogas. Os conflitos em outros países são bem diferentes. A pergunta que eu faço: qual o papel diplomático do Brasil para que tenhamos a paz no mundo inteiro? O Brasil seria, então, neste item, um ponto importante, Ministro? MINISTRO ANTONIO PATRIOTA: Claro que seria. Em primeiro lugar, dizer da minha satisfação em falar com o Rio Grande do Norte, porque meu pai é do Rio Grande do Norte, da cidade de Touros, perto de Natal. Em segundo lugar, eu acho que o Brasil, para um país do seu tamanho, sua dimensão territorial, populacional, sua economia, pode ser considerado como um dos países melhor credenciados para a promoção da paz internacional. A verdade é que não temos dificuldades com qualquer um dos nossos vizinhos, pelo contrário, nossas relações na América do Sul são cada vez mais de cooperação nos planos econômico, político, de infraestrutura e, inclusive, de combate às drogas. Foi criado no âmbito da Unasul um mecanismo chamado Conselho de Combate ao Problema Mundial das Drogas, que tem reunido representantes de todos os países sul-americanos em um espírito de troca de informações e identificação de estratégias que possam ser úteis no combate a esse flagelo que, evidentemente, é uma grande preocupação do governo brasileiro. Mas, em âmbito mais, digamos assim, global, o Brasil está, hoje, entre os membros do Conselho de Segurança, cumprindo seu décimo mandato como membro não permanente, é um mandato de dois anos e, aliás, nesse mês de fevereiro, hoje, o Brasil está exercendo a presidência do Conselho de Segurança das Nações Unidas. No Conselho de Segurança, nós temos sido capazes de contribuir para que os itens trazidos à agenda desse conselho sejam examinados a partir de uma perspectiva equilibrada. O que eu quero dizer com isso? Por exemplo, a questão do Haiti, inúmeras questões africanas que estão na agenda do conselho, não envolvem frequentemente apenas uma dimensão de segurança e não podem ser exclusivamente abordados pela perspectiva militar; nós temos, também, que olhar para os desafios que esses países enfrentam em termos de seu desenvolvimento econômico, social, institucional e é nesse espírito, de uma complementariedade entre a segurança e o desenvolvimento, que nós temos trabalhado neste âmbito do Conselho de Segurança das Nações Unidas. APRESENTADORA KÁTIA SARTÓRIO: Jota Nobre, você quer fazer outra pergunta? REPÓRTER JOTA NOBRE (Rádio Difusora de Mossoró / Mossoró - RN): Para finalizar, eu pergunto ao Ministro em relação a alguns países que, muitas vezes, discriminam brasileiros que chegam em suas terras. A pergunta que eu faço é: como é que está o tratamento, como é que vai ser o tratamento do Brasil com relação a esses países que limitam até do próprio aeroporto, muitas pessoas retornam ao Brasil, e o tratamento dos estrangeiros que moram aqui, no Brasil, Ministro?MINISTRO ANTONIO PATRIOTA: Essa pergunta foi feita por um outro estado também e é muito importante. O que eu já comentei é que foi criado uma subsecretaria especial no Itamaraty para lidar com os brasileiros no exterior. E essa questão do tratamento do cidadão brasileiro ao desembarcar num outro país é uma que nos afeta muito de perto. Nós criamos um conselho de representantes dos brasileiros no exterior, que se reúne anualmente, e que traz ao conhecimento do governo, enfim... Existem outros canais também, os consulados brasileiros fazem esse papel igualmente, em todas essas questões, para que nós as abordemos com as autoridades dos países onde ocorrem abusos, irregularidades, etc. Um país com o qual nós tivemos que desenvolver um diálogo muito franco e direto, e em que conseguimos melhorar a situação, foi a Espanha, onde havia um número muito grande de brasileiros que eram ou devolvidos ao Brasil, ou colocados em salas sem janela e ficavam aguardando durante muito tempo, sem auxílio consular, pelo equacionamento da sua situação, de modo que estamos muito atentos para este problema, é um problema que envolve o direito de ir e vir - na verdade, um direito humano - e acho que estamos muito bem posicionados até para exigirmos que os brasileiros sejam bem tratados, porque estamos trabalhando para que todos os estrangeiros aqui, no Brasil, recebam o melhor tratamento possível. Inclusive, no governo passado, houve uma anistia em relação aos brasileiros que se encontravam em situação irregular e um número muito grande de bolivianos, argentinos, colombianos e outros puderam se beneficiar dessa anistia e conseguir papéis para continuar morando no Brasil em segurança e com os seus plenos direitos respeitados. APRESENTADORA KÁTIA SARTÓRIO: Ministro, até aproveitando esta pergunta, só um questionamento de ordem prática: um brasileiro que se aconteça uma situação como essa, de ficar no aeroporto, numa situação de nem conseguir falar com ninguém, qual é o procedimento que ele deve tomar, assim, imediatamente, assim que ele tenha acesso a algum telefone, alguma ajuda? MINISTRO ANTONIO PATRIOTA: Olha, existem, no website do Itamaraty, informações a esse respeito, existem cartilhas e documentos, que nós temos distribuído, sobre os números que podem ser acionados, endereços eletrônicos, etc., e o que nós recomendamos é exatamente isso, que procurem o agente consular mais próximo. Nós, hoje em dia, temos expandido, também, bastante a nossa rede consular, há um consulado muito bem lotado, por exemplo, em Madri, outro em Lisboa, são portas importantes de entrada de brasileiros na Europa, há dez consulados nos Estados Unidos, três no Japão, de modo que o que eu recomendo é que não hesitem em entrar em contato com as autoridades consulares para buscar assistência, que eu tenho certeza que será prestada dentro da mais rápida destreza. APRESENTADORA KÁTIA SARTÓRIO: Então, antes de viajar: itamaraty.gov.br e pegar todas as dicas lá.MINISTRO ANTONIO PATRIOTA: Eu recomendaria isso.APRESENTADORA KÁTIA SARTÓRIO: Está certo. Nós estamos, hoje, com o Ministro Antonio Patriota, das Relações Exteriores. Ele participa do programa Bom Dia, Ministro. Esse programa é coordenado e produzido pela Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República, em parceria com a EBC Serviços. Ministro, vamos, agora, conversar com a Rádio Cultura, de Foz do Iguaçu, lá no Paraná. Cida Costa, bom dia. REPÓRTER CIDA COSTA (Rádio Cultura / Foz do Iguaçu - PR): Bom dia, Kátia. Bom dia, Ministro. Ministro, minha pergunta vai envolver novamente a questão segurança. Nós sabemos que os Estados Unidos têm um foco, um olhar especial, para a nossa fronteira, aqui, Brasil, Paraguai e Argentina, e constantemente a gente ouve as notícias da preocupação de terroristas aqui, nessa fronteira, e essas questões. Sabemos da vinda do presidente Obama e tudo mais. Tem alguma notícia, alguma novidade a respeito dessa questão, envolvendo essa tríplice fronteira aqui? MINISTRO ANTONIO PATRIOTA: Primeiro lugar, bom dia, Foz do Iguaçu. Tive o prazer de passar por Foz há poucas semanas, quando foi realizada aí a cúpula do Mercosul, que foi um grande sucesso. Em relação a essa questão da tríplice fronteira e a alegada presença de terroristas, a verdade é que nós nos reunimos regularmente, os três países, com os Estados Unidos, para examinar a situação na fronteira e examinar essas alegações, mas nunca houve comprovação, nunca houve prova de que, efetivamente, algum contingente na fronteira estivesse envolvido diretamente nesse tipo de atividade. O que existem, sim, são descendentes de palestinos, descendentes de árabes que estão na região e que ocasionalmente poderão estar mandando recursos financeiros para seus parentes ou para grupos em países no Oriente Médio, coisa que, aliás, acontece com nacionais descendentes desses grupos em qualquer país do mundo; os nacionais dos palestinos na Suíça, ou na Holanda, ou na Suécia, farão a mesma coisa, de modo que isso não é algo que deva preocupar em si mesmo, mas continuaremos vigilantes e continuaremos, também, conversando com os americanos para que não haja alegações transformadas em acusações que venham, inclusive, a prejudicar a imagem de uma região que nós queremos que seja uma região de amizade e cooperação fraternal entre os três vizinhos. APRESENTADORA KÁTIA SARTÓRIO: Cida, você tem outra pergunta? REPÓRTER CIDA COSTA (Rádio Cultura / Foz do Iguaçu - PR): A minha segunda pergunta, Kátia, ao Ministro, é sobre uma expectativa que nós temos aqui, na fronteira do Brasil também, Paraguai também, a respeito dessa questão da energia Brasil-Paraguai, a negociação que deverá acontecer em 26 de março, se existe uma expectativa sobre isso. MINISTRO ANTONIO PATRIOTA: Dia 26 de março é a data dos 20 anos do Mercosul, se não me engano, por isso que você está se referindo a esta data. Olha, o que existe é um esforço grande do governo, aqui, para acelerar a ratificação do acordo por troca de notas que foi concluído ainda durante o governo do presidente Lula, com o governo do presidente Lugo, do Paraguai, e que elevará o preço pela energia de Itaipu, era uma antiga reivindicação paraguaia, foi encontrado um entendimento bilateral que eu acho que é altamente benéfico para os dois países, porque temos que nos recordar que o Paraguai é um país bem menor que o Brasil, o PIB paraguaio é menos de 2% do PIB brasileiro, com uma população bem menor também, e temos todo o interesse em contribuir para o desenvolvimento e a estabilidade de um país vizinho, como o Paraguai. De modo que espero que esse acordo seja muito em breve ratificado pelo Congresso brasileiro, isso trará um alívio e um reconforto ao governo e à população paraguaia e o sentimento de que o Brasil está efetivamente engajado na estabilidade, no desenvolvimento, no progresso do Paraguai. Além disso, também concordamos em construir e auxiliar o Paraguai na construção de uma linha de transmissão de eletricidade até Villa Hayes, que é uma cidade na cercania de Assunção, capital paraguaia, e esse projeto é um que beneficiará a população da capital paraguaia, mas, também, eu acho que atrairá muito investimento, promovendo, também, crescimento econômico, crescimento que desejamos que seja inclusivo com a redução da desigualdade no Paraguai e a redução da pobreza. APRESENTADORA KÁTIA SARTÓRIO: Este é o programa Bom Dia, Ministro. Estamos, hoje, com o Ministro Antonio Patriota, das Relações Exteriores. Ele conversa com âncoras de emissoras de rádio de todo o país. Ministro, vamos, agora, conversar com a Rádio Tupi AM, de São Paulo. Ivo Morganti, bom dia. REPÓRTER IVO MORGANTI (Rádio Tupi AM / São Paulo / SP): Bom dia. Bom dia, Kátia. Bom dia, Ministro Antonio Patriota. Eu queria abordar um pouco o aspecto econômico Brasil e China, porque ainda há um reflexo de um desequilíbrio muito grande e há um prejuízo, até para diversos setores empresariais, industriais do Brasil, no que diz respeito às importações feitas junto à China, enfim, que prejudicam e muito, até em função da facilidade de uma redução de preço dos artigos chineses, essa coisa toda. Evidentemente que tem que se encontrar um equilíbrio. Está na pauta da presidenta Dilma Rousseff, Ministro, encontrar esse equilíbrio, falar desse equilíbrio para que o prejuízo dos industriais, dos empresários brasileiros não seja tão grande? Porque a gente ainda ouve falar muito de empresários que não suportam essa concorrência chinesa. MINISTRO ANTONIO PATRIOTA: Bom dia, Rádio Tupi. Bom dia, São Paulo. Ivo Morganti. Bom, eu não quero minimizar o impacto das importações chinesas sobre alguns setores específicos no Brasil. Por exemplo, brinquedos é um deles, que têm padecido muito com a produção chinesa, que é de preço bem inferior, o fator mão-de-obra na China é remunerado a preços mais baixos do que no Brasil, e isso aí cria, sem dúvida, um certo desequilíbrio. Agora, como você bem indica, isso aí tem que ser examinado num contexto mais amplo, e não nos esqueçamos que no contexto mais amplo o Brasil tem um superávit, no seu comércio com a China, de mais de US$ 5 bilhões. E, hoje em dia, a China é o principal parceiro do Brasil. Em outras palavras, a relação com a China e a intensificação do comércio com a China têm sido altamente benéfica para o Brasil e para outros países da América do Sul em linhas gerais. Isso não impede que não examinemos, com muito cuidado, setores específicos e que não procuremos melhorar a qualidade desse comércio. É uma conversa que eu mesmo já tive com interlocutores chineses, quando eu era secretário-geral do Itamaraty. Visitei Pequim, me entrevistei no Ministério do Comércio Chinês e o lado chinês entende essa problemática e está disposto a tentar encontrar soluções que reduzam o problema do impacto de certas exportações ao Brasil. Uma forma de reduzir é atração de investimento chinês para modernização, para o desenvolvimento de capacidade com maior valor agregado em certos setores e é isso que nós gostaríamos de ver acontecer mais no futuro. APRESENTADORA KÁTIA SARTÓRIO: Você tem outra pergunta, Ivo? REPÓRTER IVO MORGANTI (Rádio Tupi AM / São Paulo / SP): Eu gostaria de falar com o Ministro, também, especificamente a respeito dos biocombustíveis, no que diz respeito a visita, até, do presidente Obama ao Brasil, que vai acontecer num futuro muito breve; ainda há uma resistência ao biocombustível brasileiro na América do Norte. Como quebrar essa resistência, como fazer com que isso realmente não seja um fator que provoque uma falta de interesse do americano do norte pelo biocombustível? MINISTRO ANTONIO PATRIOTA: Bom, esta é uma questão que comporta mais de um aspecto. Em primeiro lugar, eu lembraria que, em 2007, foi assinado um memorando de entendimento entre Brasil e Estados Unidos, justamente para promover uma cooperação bilateral na área dos biocombustíveis. Esse memorando levou iniciativas, levadas conjuntamente por brasileiros e americanos em terceiros países, em países da América Central, do Caribe e agora, também, da África, para a elaboração de estudos de viabilidade que promovam, por exemplo, plantio de cana-de-açúcar para produção de biocombustíveis em países onde a conta de petróleo é muito elevada, onde há uma vulnerabilidade especial em matéria energética. Então, já existe uma agenda positiva com os Estados Unidos na área dos biocombustíveis e que beneficia terceiros países. O outro aspecto da questão é a tarifa que é imposta pelo Congresso americano ao etanol brasileiro. Essa tarifa, efetivamente, tem penalizado as exportações brasileiras e não há perspectiva de eliminação a curto prazo. Por quê? Porque ela envolve interesses regionais específicos. Eu, por exemplo, quando era embaixador nos Estados Unidos, viajei, visitei o estado de Iowa, que é um grande produtor de biocombustível à base de milho, e onde há uma forte resistência à penetração do biocombustível brasileiro, à base de cana-de-açúcar, muito mais barato, mais eficiente, ambientalmente mais saudável. E os congressistas do estado de Iowa se encarregam em fazer uma mobilização, no Congresso americano, para que a tarifa não seja eliminada. Não é algo que dependa do presidente Obama, ou antes do presidente Obama, que dependesse do presidente Bush. Eu me lembro quando o Bush visitou o Brasil, ele próprio disse ao presidente Lula, na época: Olha, eu gostaria muito de eliminar essa tarifa” - porque ele era particularmente interessado na questão energética e favorável a um comércio mais livre nesse campo -, “mas a dinâmica política interna norte-americana impede que isso aconteça”. APRESENTADORA KÁTIA SARTÓRIO: Este é o programa Bom Dia, Ministro. Estamos, hoje, com o Ministro Antonio Patriota, das Relações Exteriores, que conversa com âncoras de emissoras de rádio de todo o país, neste programa que é multimídia. Estamos ao vivo no rádio e na televisão. No rádio, no satélite, no mesmo canal da Voz do Brasil. Ministro, vamos, agora, conversar com a Rádio MEC 800 AM, do Rio de Janeiro. Clarissa Brandão, bom dia. REPÓRTER CLARISSA BRANDÃO (Rádio MEC 800 AM / Rio de Janeiro - RJ): Bom dia, Kátia. Bom dia, também, Ministro Antonio Patriota. Ministro, o Brasil tem sido pressionado essa semana, na reunião da Organização Mundial do Comércio, principalmente pelos Estados Unidos e por países desenvolvidos, a abrir mais o mercado interno, principalmente na questão de serviços e nas importações. Como é que tem sido a postura do Brasil para anular essa necessidade nítida desses países desenvolvidos em recuperarem as suas economias às custas das economias emergentes?MINISTRO ANTONIO PATRIOTA: Bom dia, Rádio MEC, Rio de Janeiro, muito feliz falar com vocês, porque eu sou do Rio de Janeiro. Mas, em segundo lugar, olha, o que tem acontecido na frente comercial, na Organização Mundial do Comércio, é uma conversa em torno de uma nova rodada de liberalização, conhecida como a Rodada de Doha, que teve início em 2001. Essas conversas foram se desenvolvendo e chegaram quase que a um bom termo, em meados de 2008, um pouquinho antes de crise financeira afetar a economia global, como aconteceu em setembro daquele ano. Nós estamos dispostos a retomar a negociação da Rodada de Doha, que prevê redução de tarifas e uma série de outras medidas no campo de regras e procedimentos comerciais, com base naqueles entendimentos. Ora, o que nós não consideramos razoável é que países desenvolvidos, entre eles os Estados Unidos, em particular, exijam uma contraparte adicional àquela que estava sendo prevista em 2008, especialmente depois de uma crise econômica que foi deflagrada em consequência de atitudes tomadas no Norte. Não foi o Brasil que provocou essa crise econômica. Essa crise tem sua origem no meio financeiro norte-americano, afetou o mundo inteiro. E vejamos o que aconteceu: na verdade, foram os países emergentes que mais ajudaram na retomada da economia mundial, de modo que já estamos dando uma contribuição muito importante. E se olharmos, por exemplo, o desempenho do comércio Brasil–Estados Unidos, o mais rápido crescimento do superávit comercial norte-americano com países individuais, em 2009/2010, foi, precisamente, com o Brasil e com a Argentina, de modo que não consideramos razoável, justificável, que nós prestemos uma contribuição adicional ou façamos concessões adicionais. De qualquer maneira, continuaremos nessa conversa, nas negociações, em Genebra, sobre a Rodada de Doha, no espírito construtivo e com o desejo de concluirmos, porque é uma rodada que, na verdade, pode beneficiar muito os países em desenvolvimento, não só especificamente o Brasil, mas também os países africanos, os países de menor desenvolvimento relativo, e é isso que nós gostaríamos de ver ocorrer. APRESENTADORA KÁTIA SARTÓRIO: Clarissa. REPÓRTER CLARISSA BRANDÃO (Rádio MEC 800 AM / Rio de Janeiro - RJ): Ministro, vamos falar, então, sobre essa visita do Barack Obama, aqui, ao Brasil. Eu queria saber qual a expectativa da Chancelaria brasileira, da Presidência da República, também, a respeito dessa visita. A gente sabe que, por exemplo, ele vai visitar Brasília e, aqui, no Rio, acho que tem até na pauta a visita de alguma comunidade. Mas qual é a expectativa, em geral, em relação a essa visita do Barack Obama, aqui, no Brasil?MINISTRO ANTONIO PATRIOTA: Olha, é uma expectativa muito positiva. Barack Obama é o primeiro presidente afrodescendente dos Estados Unidos, isso é um feito extraordinário em si mesmo. Aqui, o Brasil é o país com o maior número de afrodescendentes fora da África, de modo que, em primeiro lugar, não pode deixar de nos sensibilizar a presença do presidente Obama no Brasil. Nós queremos dar o maior conteúdo possível a essa visita, maior substância possível. Estarão em pauta, não só assuntos de ordem econômica, comercial, mas também queremos estreitar o diálogo político. Afinal de contas, os Estados Unidos continuam sendo a principal potência mundial, no campo econômico e militar, um parceiro muito importante para o Brasil, é o segundo parceiro individual do Brasil, em matéria comercial; e um país com o qual nós temos uma tradição de bom relacionamento, de relação amistosa, e uma pauta muito ampla de assuntos. Uma área em que eu acho que uma ênfase especial poderá ser atribuída é a área da cooperação em ciência e tecnologia. No momento em que o Brasil procura desenvolver a sua produtividade industrial e a sua competitividade, será fundamental estabelecer parcerias com países mais desenvolvidos, em que possamos nos beneficiar de uma transferência de tecnologia em áreas de ponta. Pode ser, por exemplo, área espacial; área da biotecnologia; nós conversamos, um pouco, também, sobre biocombustíveis – é um tema importante para Brasil e Estados Unidos, os dois principais produtores de biocombustíveis, a área energéticas; atração de investimentos e muitas outras, de modo que eu acho que será uma visita importante e estamos trabalhando para que seja, também, uma visita da reafirmação da amizade entre os povos norte-americano e brasileiro. APRESENTADORA KÁTIA SARTÓRIO: Ministro, vamos, agora, conversar com a Rádio Boas Novas 1270 AM, de Belém do Pará, onde está Adalberto Aquino. Bom dia, Adalberto. REPÓRTER ADALBERTO AQUINO (Rádio Boas Novas 1270 AM / BELÉM - PA): Olá, Kátia, bom dia. Bom dia, Ministro. MINISTRO ANTONIO PATRIOTA: Bom dia, Belém. REPÓRTER ADALBERTO AQUINO (Rádio Boas Novas 1270 AM / BELÉM - PA): É sobre o fluxo comercial entre o Brasil e Líbano, Ministro. Ontem, o Pará exportou 16.459 bois vivos para o Líbano; e o navio com o nome Ocean Driver, inclusive admirável pela sua grandeza, de dez andares e com capacidade de mais de sete mil toneladas. A minha pergunta é a seguinte, Ministro: nos últimos dois anos, o Pará foi responsável pelo embarque de mais de 95% do gado vivo exportado pelo Brasil, isso tem sido muito bom para a economia do Pará, mas o que essa exportação de gado tem significado para a economia brasileira?MINISTRO ANTONIO PATRIOTA: Você vai me desculpar, mas eu não ouvi muito bem a primeira parte da sua pergunta. Você poderia repetir? APRESENTADORA KÁTIA SARTÓRIO: Você pode repetir a pergunta, então, Adalberto, por favor?REPÓRTER ADALBERTO AQUINO (Rádio Boas Novas 1270 AM / BELÉM - PA): Ok. A minha pergunta é a seguinte, Ministro: o Pará tem sido um estado que exportou, ultimamente, nos últimos dois anos, ele foi responsável pelo embarque de mais de 95% do gado vivo do Brasil... APRESENTADORA KÁTIA SARTÓRIO: Gado. REPÓRTER ADALBERTO AQUINO (Rádio Boas Novas 1270 AM / BELÉM - PA): Exportado para o exterior. Isso tem sido bom para a economia do Pará, mas o que essa exportação de gado significa para o resto do Brasil, a economia brasileira? MINISTRO ANTONIO PATRIOTA: Olha, as exportações de qualquer produto, de qualquer proveniência, de qualquer estado brasileiro são muito importantes para o governo como um todo. O Brasil tem uma circunstância curiosa, de ser um país em o que comércio internacional ainda representa uma porcentagem relativamente baixa do seu Produto Interno Bruto, de modo que há um campo, aí, um potencial, para crescimento muito grande. E o gado vivo é um produto importante, o Brasil tem o maior rebanho do mundo. Acho que, depois da Índia, é um dos principais produtores de carne, se não for já o principal exportador de carne mundial, de modo que é um setor dinâmico, importante, e parabenizamos o Pará por esse desempenho tão impressionante. APRESENTADORA KÁTIA SARTÓRIO: Você tem outra pergunta, Adalberto? REPÓRTER ADALBERTO AQUINO (Rádio Boas Novas 1270 AM / BELÉM - PA): Não, não, obrigado, Kátia. APRESENTADORA KÁTIA SARTÓRIO: Está bom. Ministro, aproveitando o gancho, que foi que ele falou em Líbano, exportações para o Líbano, essa semana, o Brasil assumiu um cargo na Unafil (sic), que é a Força Interina das Nações Unidas no Líbano, e é primeira vez que um país que não é membro da Otan assume um cargo dentro dessa organização. Como é que foi isso? Como é que foi essa negociação?MINISTRO ANTONIO PATRIOTA: Olha, isso aí é um desenvolvimento muito importante, porque essa presença de militares brasileiros na Unifil, a missão de paz no Sul do Líbano. APRESENTADORA KÁTIA SARTÓRIO: Unifil, é.MINISTRO ANTONIO PATRIOTA: É. Ela conta com apoio não só dos libaneses, mas também de Israel. Eu pude comprovar isso recentemente, quando esteve em Brasília uma vice-ministra de Relações Exteriores de Israel, que viu com muito bons olhos a presença de militares brasileiros no comando da parte naval da Unifil, de modo que isso aí se insere em um contexto de envolvimento do Brasil, em esforços de manutenção da paz em nível mundial. Nós já temos uma forte presença na Minustah, que é a Missão de Estabilização do Haiti, como você sabe, onde o Brasil mantém o comando das tropas das Nações Unidas, um contingente de mais de dois mil soldados brasileiros, que vão se revezando a cada seis meses. Nos dá prazer e satisfação saber que chegamos a um entendimento com as Nações Unidas, também, para essa presença, agora, no Líbano. O Líbano que é um país irmão, de onde provêm tantos brasileiros. Acredito que a maior diáspora de libaneses e sírios, no mundo, esteja, precisamente, aqui, no Brasil. APRESENTADORA KÁTIA SARTÓRIO: É a Força-Tarefa Marítima, o cargo que foi assumido, não é isso, Ministro? MINISTRO ANTONIO PATRIOTA: Exatamente. É, exatamente. Exatamente. Isso foi coordenado, obviamente, com o Ministério da Defesa, que identificou os candidatos para participarem desse esforço. E, agora, já estão lá, desempenhando suas funções plenas no Líbano. APRESENTADORA KÁTIA SARTÓRIO: Está certo. Ministro, vamos, agora, conversar com a Rádio Boas Novas 580 AM, de Recife, em Pernambuco. Pedro Lins, bom dia. REPÓRTER PEDRO LINS (Rádio Boas Novas 580 AM / Recife – PE): Bom dia, Kátia. Bom dia, Ministro. Bom dia a todos. Ministro, nós gostaríamos de saber: essa visita da presidenta Dilma Rousseff à China, qual a importância dessa visita no cenário mundial?MINISTRO ANTONIO PATRIOTA: A presidenta Dilma Rousseff, quando conversou comigo sobre o calendário de visitas dela, deixou muito claro que a prioridade seria a América do Sul, e esta foi a razão da sua visita a Buenos Aires. Aliás, uma visita muito bem-sucedida, em que 15 acordos foram assinados, houve uma longa discussão entre a presidenta Dilma e a presidenta Cristina Fernandez. Aliás, uma circunstância interessante: os dois países sendo, hoje, liderados por mulheres. E, em seguida, ela comentou que tinha muito interesse em um contato com as lideranças dos Estados Unidos e da China, que são os nossos dois principais parceiros comerciais, de modo que a visita à China é uma visita a um país que não só é um parceiro estratégico, desde meados da década de 90, como, hoje, o maior parceiro individual comercial do Brasil, um investidor cada vez mais importante no Brasil e, também, um país com o qual nos coordenamos em uma série de cenários internacionais. Por exemplo, na OMC, Organização Mundial do Comércio, Brasil e China fazem parte do G-20 Comercial, em que defendemos uma agenda semelhante, de maior equilíbrio, maior justiça, no comércio de bens agrícolas. Nas conversas ambientais internacionais sobre mudança do clima, Brasil e China fazem parte de um grupo que também envolve Índia e África de Sul, de defesa de, também, pautas semelhantes, de um equilíbrio entre a preservação ambiental e o desenvolvimento ecologicamente saudável, digamos assim. E existe, também, o agrupamento BRICs, ao qual já me referi hoje, que são os países que, segundo a Goldman Sachs, a financeira norte-americana, mais crescerão durante essas primeiras décadas do novo milênio, e que tem dado uma grande contribuição à retomada econômica, desde a crise de 2008, e compartilham interesses comuns, também, na agenda econômica e financeira, sobretudo nos temas tratados no G-20, de modo que há uma multiplicidade de assuntos que farão parte da agenda da presidenta Dilma, tanto bilaterais como sobre as duas regiões, Ásia e América do Sul, como esses temas globais, aos quais eu me referi. APRESENTADORA KÁTIA SARTÓRIO: Ministro Antonio Patriota, vamos, agora, conversar com a Rádio Educadora 107,5 FM, de Salvador, na Bahia. A pergunta é de Sueli Diniz. Bom dia, Sueli. REPÓRTER SUELI DINIZ (Rádio Educadora 107,5 FM / Salvador - BA): Bom dia, Kátia Sartório. Bom dia, Ministro Antonio Patriota. Tudo bom?MINISTRO ANTONIO PATRIOTA: Tudo. REPÓRTER SUELI DINIZ (Rádio Educadora 107,5 FM / Salvador - BA): Aqui, em Salvador, nós gostaríamos de saber qual é a política que a presidenta Dilma Rousseff pretende manter com relação aos direitos humanos no Oriente Médio. Com esta questão toda que está acontecendo agora, se ela pretende manter a mesma política que o ex-presidente Lula vinha mantendo.MINISTRO ANTONIO PATRIOTA: Bom dia, Salvador. Eu acabo de passar alguns dias em Imbassaí, que é uma terra muito querida para mim, de modo que fico feliz de falar com vocês. Olha, direitos humanos é um assunto fundamental para o Brasil, para um país que se redemocratizou e atribui grande importância às liberdades civis, políticas, à liberdade de expressão, que tem trabalhado muito pela redução da desigualdade e redução da pobreza. Isso também não deixa de ter um impacto sobre os direitos humanos. Uma pessoa que não tem o que comer, que não tem trabalho, cujas condições de vida são precárias, não terá os seus direitos humanos respeitados, por definição. E o que eu acho é que um país adquire mais autoridade no cenário internacional, para falar de direitos humanos, quando ele faz seu dever de casa e quando procura melhorar a situação internamente. Aqui, no Brasil, foram, inclusive, criadas várias secretarias para cuidar de direitos humanos. Além da Secretaria Especial de Direitos Humanos, existe a Secretaria para a Promoção da Igualdade Racial, um tema fundamental para o Brasil, e também a Secretaria para Promoção da Igualdade de Gênero. O fato de termos, hoje, uma presidenta mulher reflete, também, eu acho que favoravelmente, sobre o esforço que a sociedade brasileira, que o governo brasileiro tem feito para que as condições de igualdade entre homens e mulheres sejam enfatizadas e sejam melhoradas. Eu não acho que o Oriente Médio seja, necessariamente, uma região prioritária para se falar de direitos humanos. Todos os países do mundo podem melhorar a sua situação, em matéria de direitos humanos, independente do grau de desenvolvimento. Aliás, se nós olharmos para a história, talvez tenham sido os países mais poderosos e desenvolvidos os que maiores abusos tenham... Tenham sido responsáveis pelos maiores abusos nessa área. Basta pensar na exterminação da população indígena nas Américas, basta pensar no fenômeno da escravidão, de todos os escravos que vieram da África para o Brasil, isso aí exigiu grandes recursos econômicos e financeiros, e outros fenômenos desse tipo, de modo que é muito importante nós termos o cuidado, ao abordar direitos humanos, de não cairmos em algumas dessas armadilhas de criar a impressão, por exemplo, que os piores abusos são cometidos nos países mais pobres. Isso não é, necessariamente, verdade. Agora, nós defenderemos, sim, em diferentes órgãos das Nações Unidas e do sistema multilateral, como o Conselho de Direitos Humanos, que se reúne em Genebra, como a Assembleia-Geral da Onu. Uma abordagem equilibrada e justa e que também não seja insensível às situações onde existem flagrantes violações. Há situações que nos ofendem particularmente. No Brasil, não há pena de morte, por exemplo, e a morte por apedrejamento ou por qualquer outro método, em países onde há pena de morte, é uma coisa que nos preocupa, de modo que trabalharemos com outros parceiros que tenham a perspectiva semelhante, para lidar com essa questão. A questão da tortura é uma outra questão que nos preocupa muito. Também pode ser encontrada tanto como função de ação de um país mais desenvolvido como num país menos desenvolvido, e o que nós defenderemos sempre é uma abordagem equilibrada, equânime, que não se transforme numa agenda de cunho político, em que alguns países são poupados e outros são criticados. APRESENTADORA KÁTIA SARTÓRIO: Ministro, rapidamente, vamos conversar com a Rádio Verdes Mares, de Fortaleza, no Ceará. Nilton Sales, bom dia. REPÓRTER NILTON SALES (Rádio Verdes Mares / Fortaleza - CE): Bom dia, Ministro Patriota. MINISTRO ANTONIO PATRIOTA: Bom dia. REPÓRTER NILTON SALES (Rádio Verdes Mares / Fortaleza - CE): Com relação à próxima viagem da presidenta ao exterior, o senhor pode me dizer se ela será só uma viagem de apresentação ou viagem de negócios?MINISTRO ANTONIO PATRIOTA: Olha, talvez, nenhuma coisa nem outra, Nilton, de Fortaleza. Aliás, bom dia, Fortaleza. A verdade é que o Brasil dispensa apresentações, e a presidenta Dilma Rousseff, ela já é conhecida. Essas viagens permitem que se abordem um conjunto de assuntos, tanto aqueles comerciais e econômicos, como uma agenda, às vezes, de coordenação sobre temas que interessam a comunidade internacional como um todo, os temas ambientais, os temas de paz e segurança, de modo que serão viagens que permitirão uma intensificação de nosso diálogo, em uma série de assuntos, com parceiros importantes. APRESENTADORA KÁTIA SARTÓRIO: Ministro, infelizmente, acabou o nosso tempo, e eu gostaria muito de agradecer sua presença no nosso programa.MINISTRO ANTONIO PATRIOTA: Eu que agradeço, Kátia, foi um prazer estar aqui, com vocês. APRESENTADORA KÁTIA SARTÓRIO: A todos que participaram conosco de mais um programa, meu muito obrigada e até a próxima edição.